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Desafio para o MEC

Reforma do ensino médio enfrenta dificuldades que exigem diálogo e coordenação

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Camilo Santana, ministro da Educação - Pedro Ladeira/Folhapress

Ninguém deveria imaginar que a implementação do novo modelo de ensino médio seria fácil. A reforma, sancionada em 2017, é ambiciosa e exige mudanças e adaptações em vários níveis. Ademais, o país se viu atropelado por dois cataclismos, a pandemia e o desgoverno do Ministério da Educação sob Jair Bolsonaro (PL).

No papel, o projeto é bom. Ele fundamentalmente amplia a carga horária dessa etapa de ensino, que passa de 2.400 horas-aula para 3.000 nas três séries, e dá mais liberdade para o aluno elaborar seu próprio currículo, de acordo com suas preferências e aptidões.

A ampliação da jornada constitui antiga recomendação de especialistas. Já a oportunidade de personalizar a grade curricular é vista como um possível remédio contra um dos maiores males que assolam essa fase do ensino: o abandono por falta de interesse.

O principal obstáculo à reforma, desde sempre antevisto, estava na carência de recursos, físicos e humanos, em especial na rede pública. Maior carga horária e mais opções para os alunos requerem mais salas de aula e mais professores especializados, o que não está ao alcance de todas as escolas.

Por isso a legislação previu um cronograma gradual para a implementação das mudanças, que iria estender-se até 2024.

Vale lembrar, ainda, que a reforma veio num contexto em que as redes já enfrentavam dificuldades para contratar docentes. Os salários não são atrativos e o cargo já não traz o prestígio social de outrora. Assim, na prática, muitas escolas oferecem ao corpo discente itinerários limitados, que é o contrário do objetivo do novo modelo.

Sob Bolsonaro, o Ministério da Educação praticamente saiu de cena, quando deveria desenvolver soluções para os problemas e repassá-las às redes de ensino. Com a pandemia, prioridades foram readequadas, com a adaptação ao ensino remoto no topo da lista —ainda que o desempenho nesse quesito não tenha sido dos melhores.

Outros desafios ficaram patentes. Um particularmente grave é o dos alunos que precisam trabalhar. O aumento da carga horária desconsiderou esse público, e não é aceitável que a necessidade de complementar a renda da família se torne um empecilho à educação.

Entretanto não é o caso de revogar a reforma, como apressadamente já defendem algumas organizações estudantis.

O que se espera agora, com o MEC de volta à ação, é que o órgão exerça sua função de coordenação, ao elaborar estratégias que facilitem a implementação do novo ensino médio em todo o país e oferecer respostas satisfatórias para os problemas que já surgiram e aqueles que ainda estão por vir.

editoriais@grupofolha.com

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