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Ranier Bragon

A queda da Lava Jato e os erros do passado

Democracia deve manter tentativa de entender o que aconteceu e o que precisa ser feito para que não aconteça de novo

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Ranier Bragon
Ranier Bragon

Na Sucursal de Brasília desde 2003, foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís. Formado em jornalismo pela PUC-MG. É autor, entre outras e em parceria com colegas, das reportagens sobre o patrimônio da família Bolsonaro e das candidaturas laranjas do PSL nas eleições de 2018.

Brasília

A libertação de Sergio Cabral e a suspensão do juiz Marcelo Bretas simbolizaram o fim de um ciclo de quase nove anos em que o mundo político foi posto de ponta-cabeça e em que ascendeu ao poder algo da qualidade de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo.

Como foi possível o mais alto cargo da República ter sido ocupado por um grupo reconhecidamente limítrofe, preconceituoso, incompetente, ignorante de regras e de ideias, profícuo apenas em produzir bobagens e em se imiscuir em mutretas de gabinete?

Marcelo Bretas durante solenidade na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em 2017 - Leonardo Wen-12.jun.2017/Folhapress

Essa reflexão mereceria um tratamento similar ao de um desastre aéreo, com o recolhimento de todos os cacos para meticulosa compreensão dos motivos da desgraça e, sobretudo, daquilo que precisa ser feito para que ela não se repita.

Mesmo não sendo a única causa, o furor purificador da Lava Jato semeou o campo em que mais tarde colheu-se Bolsonaro, a quem os próceres da operação se uniram depois, em mais um capítulo histórico da hipocrisia udenista.

Enterrada a Lava Jato, muitos parecem já ter se esquecido do que a possibilitou.

Proliferam-se picaretagenzinhas e privilégios aqui e ali, sendo que em alguns casos os responsáveis desobrigam-se até mesmo de dar explicações. O balcão de cargos e emendas está aberto e operante. Em suma, voltam a adubar a terra em que ciclicamente a trombeta do moralismo floresce.

O presidente Lula (PT) cogita indicar seu advogado para o Supremo Tribunal Federal e já anunciou que irá copiar de Bolsonaro o desprezo pela eleição interna para escolha do chefe do Ministério Público. Talvez com o propósito de enterrar de vez o lavajatismo.

Lula governa faz só dois meses e não há equivalência entre ele e Bolsonaro. Para quem acha que há, explicações de nada adiantarão. O petista deveria, porém, distanciar decisões de tamanho quilate de desejos privados de desforra ou de recompensa.

O bolsonarismo está por ora derrotado, mas conta ainda com um assustador suporte popular. Não deveria haver espaço para erros do passado.

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