A violência contra a mulher é um crime gradativo e silencioso. Segue um trajeto que vai de abusos psicológicos até agressões físicas e morte. Por ser mais comum no ambiente doméstico e envolver dependência econômica, fica escondido. Por isso, exige ações estratégicas para prevenção e punição.
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021, uma em cada três mulheres de 15 a 49 anos (cerca de 736 milhões) já foi submetida à violência física ou sexual seja pelo parceiro ou não.
As agressões prevalentes são as do primeiro tipo (641 milhões), e os países menos desenvolvidos têm maior incidência de casos, em média 37% —enquanto a mundial é de 27% e, na Europa, os números variam entre 16% e 21%.
Pesquisa Datafolha divulgada no dia 2 deste mês confirma os padrões da OMS: prevalência doméstica e impacto sobre minorias.
Cerca de 33% das mulheres ouvidas viveu algum episódio de violência cometida pelo parceiro, e o índice aumenta quando são negras (48%) ou têm escolaridade até o ensino fundamental (49%).
Tais características tornam fundamental a implementação de uma rede pública integrada de identificação e notificação de casos, e o sistema de saúde exerce papel mediador entre as vítimas e o órgãos de segurança pública e de justiça.
Não à toa, uma das recomendações da OMS é a capacitação de profissionais de saúde para reconhecer e comunicar agressões desse tipo. Contudo, essa área ainda encontra entraves no Brasil.
De acordo com levantamento da Vital Strategies, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, apenas 19,5% dos casos são registrados nas unidades básicas de saúde, enquanto 80% aparecem em hospitais ou prontos-socorros. Com a notificação tardia, perde-se a oportunidade para evitar casos graves ou a morte da vítima.
Os dados referentes à cidade de Goiânia expõem o problema de modo flagrante. Dentre as causas de mortes de mulheres quando houve registro de violência prévia, 64,7% foram externas e 33,1% foram doenças. Nas externas, 78,9% eram agressões e 16,6% eram acidentes.
Ainda mais preocupante, o tempo médio entre a notificação e a morte em alguns casos de causas externas foi de 32 dias —25% nos primeiros dias após a notificação.
É necessário, portanto, capacitar profissionais do setor para identificar agressões, inclusive as mais sutis, e implementar uma rede de notificações ágil e contínua entre os órgãos de saúde, de assistência social e de segurança. Perder tempo pode levar a vidas perdidas.
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