Descrição de chapéu
O que a Folha pensa inflação

Viés de baixa

Plano fiscal e melhora da inflação são necessários para declínio dos juros do BC

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Adriano Machado/Reuters

O fato econômico mais marcante deste início de março foi a queda das taxas de juros que definem o ônus de financiamento do governo e servem de piso para o custo dos empréstimos de todo o mercado.

As taxas de prazo inferior a dois anos se aproximaram daquelas registradas no início de novembro do ano passado —isto é, pouco antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começar a campanha de discursos que pôs em dúvida o controle da dívida do governo e a autonomia do Banco Central.

A queda é sinal de que, ao menos para agentes do mercado, a Selic —taxa fundamental definida pelo BC— pode baixar antes do previsto e mais do que se imaginava.

Na última reunião do seu Comitê de Política Monetária, o BC passou mensagem dura. Dadas a expectativa de inflação em alta e a incerteza sobre a política econômica, talvez a Selic fosse mantida nos atuais 13,75% até dezembro, pelo menos.

Operadores e especialistas não corroboravam a projeção do BC, pois contavam com uma Selic menor em dezembro. Nesta semana, entretanto, os indicadores apontavam corte maior e mais precoce, talvez em meados do ano.

Entre os motivos da mudança de rumos parecem estar os sinais de desaceleração da economia, contida pelo arrocho monetário e pelas dificuldades ainda maiores de financiamento das empresas. A fraude nas Americanas e outros pedidos de recuperação judicial abalaram o mercado de crédito.

Ademais, difundiu-se a impressão de que o Ministério da Fazenda apresentará, ainda neste março, um plano aceitável de contenção da dívida pública.

É certo que a atividade desacelera, que há escassez de crédito e empresas em dificuldades. As expectativas de inflação pararam de aumentar. Mas é preciso que baixem e que a inflação dê sinais de que vá declinar antes que o BC tome uma atitude em relação à Selic.

Se o plano fiscal de Fernando Haddad se mostrar de fato crível e se permanecerem indícios de arrefecimento de PIB e preços, é possível que a autoridade monetária corrobore o movimento do mercado e a baixa de juros ganhe impulso.

Também é preciso levar em conta o contexto externo. Ainda é incerto o ritmo de alta de juros nos EUA, e a crise no setor de tecnologia gera danos e acidentes, como a quebra do banco SVB, que atendia firmas inovadoras —o clima de desconfiança abalou Bolsas e afetou a onda de valorização nos mercados financeiros brasileiros.

O cenário é turbulento; a inflação no Brasil e no mundo é resistente. Um bom plano fiscal, comedimento do governo e controle de riscos nos mercados de crédito podem contribuir para que se consolide a tendência de queda de juros.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.