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Entre o átomo e o carvão

Alemanha fecha usinas nucleares e cria desafio para diminuir emissão de carbono

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Usina nuclear Isar 2, localizada no estado da Baviera (Alemanha) - Christof Stache/AFP

O fechamento de três derradeiras centrais nucleares põe termo a 62 anos de energia atômica na Alemanha. Essa fonte chegou a representar um terço da matriz elétrica germânica, depois reduzida a cerca de 6%. Contudo a renúncia a ela contrasta com a política energética de países europeus e asiáticos.

A decisão de descomissionar as centrais de Emsland, Isar 2 e Neckarwestheim veio após o desastre de 2011 em Fukushima, no Japão. Fixou-se o prazo de 2022, mas o temor de insegurança energética e preços em disparada —com a guerra na Ucrânia e os cortes no gás natural russo— forçaram o adiamento por três meses e meio.

A França, campeã em geração nuclear da Europa, vai manter 57 reatores em atividade. A Bélgica postergou fechamentos. O Reino Unido reativou planos para novas usinas. Quase metade da União Europeia, 13 de 27 países, seguirá utilizando energia nuclear.

No mundo há 422 reatores que geraram 10% da eletricidade consumida em 2021. Em 1996, eram 17,5%. A fatia pode voltar a crescer, puxada pela Ásia e pela necessidade de reduzir emissões de carbono para conter o aquecimento global.

O próprio governo japonês desistiu de abandonar centrais atômicas. A China, que já produz mais eletricidade nuclear que a França, planeja 47 novas usinas. Rússia e Índia seguem na mesma trilha.

A derrocada atômica na Alemanha representa vitória do Partido Verde. Ironicamente, ela vem acompanhada de aumento na queima de carvão mineral, combustível fóssil que mais afeta o clima.

Críticos, dentro e fora do país, duvidam da capacidade alemã de suprir a demanda com fontes eólica e fotovoltaica e de manter os compromissos de descontinuar o carvão mineral em 2038 e obter descarbonização completa em 2045. Para eles, a energia nuclear seria imprescindível na transição.

Falaram mais alto no governo de Olaf Scholz o risco de acidentes e o desafio da disposição final de centenas de contêineres com resíduos radioativos, que precisam de estocagem por milhares de anos.

Nem o governador da Baviera, Markus Soeder, contrário ao fechamento, aceita depósitos no estado.

A aposta alemã é alta, talvez arriscada demais, mesmo para uma economia com alta capacidade de inovação e investimento. Na eventualidade de alcançar sucesso, entretanto, terminaria por invalidar a principal justificativa para um pretendido renascimento nuclear.

editoriais@grupofolha.com.br

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