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Deborah Carvalho Malta

Obesidade e desnutrição estão intimamente ligadas

Incentivo à alimentação saudável deve ser uma política de Estado

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Deborah Carvalho Malta

Médica epidemiologista, é doutora em saúde pública, professora associada da Escola de Enfermagem da UFMG e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)

A recente tragédia dos yanomamis fez despertar a indignação e gerou interesse pelo tema da desnutrição.

Em 2015, o Brasil alcançou a meta dos Objetivos do Milênio, reduzindo a desnutrição aguda infantil para menos de 2%, e o reconhecimento internacional da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) pela saída do Mapa da Fome Global em 2014. Esses resultados refletem o investimento em políticas públicas de proteção social, como o programa Bolsa Família, merenda escolar saudável, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e condicionalidades na atenção primária à saúde, além de avanços no desenvolvimento econômico e aumento dos empregos.

Após 2016, em função das medidas de austeridade e retrocessos nas políticas de proteção social, ocorreu a deterioração da economia, com redução de empregos e renda, intensificada pela pandemia e afetando grande parcela da população brasileira —em especial os mais vulneráveis. Dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar (Rede Penssan) apontaram, em 2022, que a fome atingiu 33,1 milhões pessoas, além de 125,2 milhões vivendo em insegurança alimentar, ou seja, sem ter alimentos em qualidade ou quantidade suficiente.

A desigualdade no acesso a alimentos de qualidade fez crescer o consumo de alimentos ultraprocessados, com alta densidade calórica e elevados teores de gorduras, sal e açúcar, que resultam, também, no aumento da obesidade. No Brasil, a insegurança alimentar e nutricional tem duas faces muito características: a desnutrição e a obesidade, que estão intimamente relacionadas.

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo, o que pode levar ao surgimento de diversas doenças crônicas, como cardiovasculares, câncer e diabetes mellitus. A obesidade tem crescido de forma acelerada no país, atingindo 26% da população adulta brasileira em 2019, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE. As causas são multifatoriais, incluindo alimentação de alta densidade calórica e gasto energético diminuído devido ao sedentarismo, além de fatores genéticos, endócrinos, psicológicos e socioculturais.

O estudo Carga Global de Doenças, com base em evidências da literatura, estima a proporção de mortes atribuíveis a cada fator de risco (FR). Assim, em 2019, a obesidade liderava como terceiro FR que mais mata no país (cerca de 178 mil mortes) e a desnutrição encontrava-se em 11º lugar, com 35,6 mil óbitos.

Para superar esses dois graves problemas são necessárias políticas públicas para o incremento de consumo de alimentos saudáveis, como o incentivo à produção e comercialização de frutas, legumes e hortaliças, merenda escolar nutritiva, taxação de alimentos ultraprocessados, incluindo as bebidas açucaradas, e avanços na rotulagem dos alimentos, dentre outros.

A superação da desnutrição e da obesidade passa por políticas públicas de redução da desigualdade social e acesso à alimentação saudável para toda a população brasileira.

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