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BC conservador

Órgão mantém cautela sobre juros, mas deixa aberta chance de corte em agosto

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Fachada do Banco Central, em Brasília (DF) - Gabriela Biló/Folhapress

Ao não sinalizar claramente um corte iminente de juros, o Banco Central evitou sancionar projeções mais otimistas sobre a queda da inflação. Correu também o risco de enfurecer ainda mais a ala política do governo petista e boa parcela do empresariado.

Diante das incertezas, é fato que o BC poderia ter reconhecido com mais desenvoltura o progresso observado nos últimos meses em algumas das condições necessárias para o corte de juros.

De forma conservadora, o Comitê de Política Monetária (Copom) continuou a descrever um balanço de riscos equilibrado, com fatores altistas e baixistas para a inflação.

Entre os primeiros estão a persistência de pressões da economia internacional e incertezas residuais na definição da nova regra de controle de despesas públicas.

Quanto aos elementos favoráveis, há a queda dos preços de matérias-primas em moeda local, desaquecimento global e a possibilidade de uma desaceleração mais pronunciada do crédito.

Na soma geral, o BC pregou prudência para consolidar o processo de desinflação. No jargão típico de seus comunicados, contudo, há sinais de que a porta para a redução de juros seja aberta caso as condições continuem a evoluir de modo benigno, como se espera.

Um exemplo é a alteração dos tempos verbais, algo só evidente para os afeitos à exegese aplicada aos comunicados do BC. Se antes a conduta serena se colocava como orientação futura, agora há o reconhecimento de que essa estratégia já vem se revelando correta.

O corte na taxa Selic parece iminente, mas ainda depende de alguns elementos. O principal a esta altura é a confirmação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) neste mês de que não haverá revisão altista da meta de inflação, já fixada em 3% para os próximos dois anos —e de que a meta de 2026 será mantida no mesmo patamar.

A celeuma em torno desse tema no governo, em especial por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), revelou-se contraproducente, pois elevou as expectativas dos agentes econômicos e a inflação embutida nos preços dos títulos públicos para os próximos anos.

Felizmente, o processo tem sido revertido —nas últimas quatro semanas, o IPCA esperado para este ano e para 2024 recuou de 5,8% e 5,12% para 4,13% e 4%, respectivamente. Se o CMN confirmar as metas, é quase certo que caiam mais.

O BC poderia ter sido mais explícito na descrição do progresso, até para aplacar ansiedades e reduzir ruído político. O que se espera é que até o próximo encontro do Copom, em agosto, estarão postas as condições objetivas para o início do alívio monetário. Até lá, Lula faria bem em evitar tumulto.

editoriais@grupofolha.com.br

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