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O que a Folha pensa drogas

Centro sem lei

Falta de ações integradas na cracolândia amplia oportunidades para o crime

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Agentes da Guarda Civil Metropolitana durante operação na cracolândia, em São Paulo (SP) - Danilo Verpa/Folhapress

A falta de políticas públicas duradouras e eficazes para a cracolândia do centro paulistano, combinada à leniência do poder público com o crime, cria ambiente propício para práticas de extorsão.

Como noticiou a Folha, comerciantes relatam que um grupo que diz ter o controle do tráfico de drogas na região tem cobrado parcelas mensais de R$ 30 mil para retirar dependentes químicos das portas de estabelecimentos e residências —o valor seria dividido entre os empresários, variando entre R$ 1.000 e R$ 5.000 de acordo com o tamanho do negócio.

O impacto da crise de saúde e de segurança na cracolândia sobre lojistas é mais um desdobramento de um drama humanitário

Nos primeiro trimestre deste ano, ao menos 23 comerciantes fecharam as portas nos bairros Santa Ifigênia e Campos Elíseos. Usuários de droga, que antes se concentravam na praça Júlio Prestes, agora perambulam pelo centro da cidade após sucessivas operações policiais, muitas delas truculentas, que dispersaram o problema.

Ademais, e ainda pior, há indícios de participação de agentes públicos na extorsão. Na quarta (7), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) encaminhou, por meio da Controladoria-Geral do Município, um pedido de prisão de guardas municipais suspeitos de envolvimento no esquema criminoso.

Apesar da iniciativa, é melhor que a prefeitura não trate o episódio como apenas um caso isolado no órgão de segurança pública, mas coopere com a investigação para averiguar eventual conivência do poder público.

O descontrole na cracolândia, além de favorecer atividades ilícitas, gera casos de violência. No episódio mais recente, na tarde da última sexta-feira (9), um motorista de aplicativo foi agredido e teve seu veículo depredado na região.

Evidente que a questão principal é lidar com a escassez de políticas de saúde pública e de habitação. Não há soluções mágicas. A aposta da administração municipal de Nunes em internação —por vezes, contra a vontade do usuário— e em medidas penais não dá conta da crise, que requer medidas interdisciplinares de longo prazo.

A ausência de ações contínuas resulta em caos social, que estimula a corrupção de agentes públicos, dado que moradores e comerciantes desesperados recorrerão a meios privados para se protegerem e fazerem valer direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado.

editoriais@grupofolha.com.br

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