Mudanças ministeriais são quase corriqueiras no presidencialismo brasileiro —sejam para substituir nomes que se mostraram inadequados, por mau desempenho ou envolvimento em casos rumorosos, sejam para reconfigurar a sustentação política ao governo.
Entretanto é inusitado que, decorridos menos de seis meses de governo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteja diante de todas essas possibilidades, ainda que não necessariamente vá contemplá-las.
Lula mostrou sensatez na formação de sua equipe ao incluir representantes de partidos ao centro e à direita. Assim, MDB, PSD e União Brasil receberam 3 ministérios cada um, em um total de 37 pastas na Esplanada brasiliense.
Não se viu, porém, a mesma disposição em dividir a agenda e as decisões de governo. O PT reservou para si e para aliados próximos quase todos os cargos mais importantes e de maior visibilidade, e a prioridade do presidente tem sido relançar programas e bandeiras de suas gestões passadas.
Ademais, o arranjo no primeiro escalão se revelou frágil para o objetivo de obter maioria no Congresso, especialmente no caso da União Brasil —legenda que resultou da fusão entre o DEM, de centro-direita, e o PSL, que antes abrigava Jair Bolsonaro (hoje PL) e apoiadores.
Além de o partido apresentar elevado grau de infidelidade em votações no Congresso, dois de seus ministros têm sido motivo de desgaste para o Planalto e se tornaram alvo de uma eventual reforma.
Daniela Carneiro (Turismo) está de saída da sigla e é questionada pelo apoio recebido de grupos ligados à milícia do Rio; Juscelino Filho (Comunicações) acumula suspeitas variadas em torno de sua conduta no ministério.
Mais importante, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pressiona o governo por postos de mais relevo —o objetivo é nada menos que o Ministério da Saúde, hoje comandado por uma técnica, Nísia Trindade, e dono de verbas vultosas de interesse dos parlamentares.
De pouco adianta, a esta altura, reclamar das intenções e dos métodos de Lira e do centrão. Lula acerta ao reconhecer a legitimidade do Congresso hoje mais protagonista e escolher o caminho da negociação, não do enfrentamento.
O que lhe falta é uma agenda de governo mais ampla que as preferências de seu partido, capaz de aglutinar apoios entre forças do Legislativo e da sociedade.
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