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Retomar a imunização

Covid afeta cobertura, que cai desde 2016; é preciso diagnosticar gargalos

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Nísia Trindade, ministra da Saúde, durante entrevista para a Folha - Gabriela Biló/Folhapress

No dia 5 de maio, a Organização Mundial da Saúde decretou o fim do estado de emergência da pandemia de Covid-19. Mesmo assim, a situação ainda inspira cuidados.

Na semana epidemiológica do fim do mês de maio, 22,2 mil novos casos e 243 óbitos foram registrados no Brasil. O aspecto alarmante de fato arrefeceu graças aos imunizantes. Mas, apesar dos benefícios constatados, a cobertura vacinal contra o Sars-CoV-2 no país enfrenta dificuldades.

Os dados sobre a vacina bivalente —que combina a cepa original com a ômicron, predominante em todo o mundo— são sintomáticos.

Apesar de ter sido lançada em fevereiro para grupos prioritários e liberada no final de abril para toda a população acima de 18 anos, até agora apenas 12,1% dos brasileiros tomaram o imunizante. São Paulo, estado com melhor desempenho, tem só 17,2% de cobertura; Roraima e Acre têm ínfimos 3,6% e 4,4%, respectivamente.

Ademais, a pandemia impactou a imunização contra outras doenças. Em abril, o Unicef chegou a emitir um alerta: a vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola no Brasil caiu de 93,1%, em 2019, para 71,5% em 2021, e a da poliomielite, de 84,2% para 67,7%.

Os índices já vinham caindo desde 2016, mas a tendência se acentuou na crise sanitária. O colapso dos serviços de saúde e o medo das famílias de se contaminarem com o coronavírus levaram à queda na vacinação —na primeira infância, crianças são imunizadas contra ao menos 17 doenças.

Não à toa, uma das prioridades listadas por Nísia Trindade, ministra da Saúde, em entrevista à Folha, foi a ampliação da cobertura vacinal. A chefe da pasta reconhece que há problemas e aponta que o governo voltou a fazer campanha de conscientização —de fato lançada em 27 de fevereiro.

É bem-vinda a intenção de focar o trabalho em áreas carentes, como a região amazônica, e de articular lideranças religiosas, formadores de opinião e Ministério da Educação para esclarecer a população sobre a importância da imunização.

Nísia também falou sobre o perigo da desinformação online, publicada inclusive por médicos. O Conselho Federal de Medicina, por óbvio, tem o dever de avaliar e julgar os casos. Mas, dado que o enfraquecimento da cobertura vacinal é anterior à pandemia, é preciso diagnosticar os gargalos no programa de imunização brasileiro, não apenas contra o coronavírus.

editoriais@grupofolha.com.br

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