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Ambiente tenso

Lula diz não ceder em acordo entre Mercosul e UE, mas pode ter de voltar atrás

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista coletiva, em Bruxelas (Bélgica) - Ricardo Stuckert/Divulgação

O giro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Europa, no que diz respeito ao meio ambiente, foi marcado por alguma tensão e pouco resultado. O mandatário falou grosso, saiu de mãos vazias e não demorará a ter sua gestão cobrada por coerência nessa matéria.

O governo brasileiro tinha expectativa de ver a Dinamarca contribuir com o Fundo Amazônia, reativado após o congelamento obtuso, por Jair Bolsonaro (PL), do dispositivo bilionário que recompensa o Brasil por preservar florestas. O desembolso não ocorreu, mas a primeira-ministra Mette Frederiksen declarou empenhar-se por incluir algum valor no orçamento.

O fundo destravado já havia colhido promessas de doações equivalentes a R$ 108 milhões da União Europeia (UE), R$ 500 milhões do Reino Unido e R$ 2,5 bilhões dos EUA. Antes de ser paralisado, Noruega e Alemanha haviam depositado R$ 3,3 bilhões.

O ponto focal do périplo europeu foi a reunião de cúpula com 33 países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e 25 da UE, em Bruxelas. Ao final do encontro, em entrevista coletiva, o petista elevou o tom ao abordar o acordo Mercosul-UE.

O ponto de atrito está na carta adicional sobre o acordo enviada pela UE em março, tratando de padrões ambientais a serem exigidos. Em abril, o Parlamento Europeu já havia aprovado lei proibindo produtos oriundos de desmatamento —criticada por parte do setor agropecuário no Brasil.

"Era uma carta que ameaçava com punição se a gente não cumprisse determinados requisitos ambientais. Tem que haver dois parceiros estratégicos, não discutir ameaças", queixou-se Lula na entrevista. Ele enviará uma contraproposta, mas assegurou que não vai ceder na questão.

O tempo dirá. Não se descarta que Lula esteja a engrossar a voz mais no intuito de manter trunfo de negociação, talvez para tentar salvar o que puder da política de compras estatais para favorecer produtos nacionais. Nada a estranhar num governo que vê, equivocamente, o Estado como principal agente da atividade econômica.

Péssimo será, entretanto, se Brasília seguir implicando com cláusulas ambientais por subscrever a velha alegação do agronegócio de que se trataria do também antigo protecionismo europeu. Se assim foi no passado, deixou de ser.

Combater mudanças climáticas (e, portanto, o desmatamento) representa hoje anseio legítimo de muitas nações, um imperativo ditado pela ciência. O próprio governo brasileiro promete desmatamento zero; assim, precisa adequar sua ação estratégica no tema, por coerência e por não haver meia volta nessa marcha global.

editoriais@grupofolha.com.br

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