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O que a Folha pensa Censo 2022

Ainda o censo

Envelhecimento exigirá políticas para evitar fuga de cérebros e atrair migrantes

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Idosos fazem atividade física em centro de acolhimento, em São Paulo (SP) - Eduardo Knapp/Folhapress

A queda do ritmo de crescimento da população é tendência universal. A transformação não foi diferente no Brasil, embora tenha sido mais rápida do que na média mundial a partir de 2000. Os primeiros dados do censo indicam que a mudança demográfica se acelerou, em grau parcialmente imprevisto.

Pesquisas do IBGE estimavam uma população de pouco mais de 214 milhões de habitantes em 2022. O censo, como se sabe, contou 203 milhões. Embora ainda não se conheçam os números por faixa etária, entre outros, é quase certo que o envelhecimento populacional é agora mais veloz. Há consequências mais e menos óbvias.

O número de idosos que dependem de pessoas em idade ativa tende a aumentar, com impactos na Previdência, no sistema de saúde e na tributação. Se a taxa bruta de natalidade (o número relativo de nascimentos por ano) cai abaixo da taxa de mortalidade, a população diminui, claro, a não ser que o saldo da migração seja positivo. Esperava-se que o Brasil chegasse a esse ponto na segunda metade da década de 2040. Pode acontecer bem antes, pelo que se vê.

A fecundidade total no Brasil já estava próxima à do terço dos países com as taxas mais baixas, embora a razão de dependência (de idosos pela população ativa) ainda estivesse na média mundial.

A população brasileira já cresce menos que a de boa parte das nações desenvolvidas —por atrair menos imigrantes. Essa tendência parece mais acentuada.

A formação de mão de obra se torna assunto ainda mais urgente. Nos últimos anos de bom crescimento econômico, no final da década 2001-10, era notória a escassez de trabalhadores qualificados.

É possível que tal problema volte a se repetir, em escala maior, se o PIB voltar a crescer de modo duradouro, com uma população que envelhece mais rápido. Evitar a fuga de cidadãos desesperançados e atrair trabalhadores estrangeiros devem ser tema de política pública.

A transição demográfica é influenciada por melhorias de renda, urbanização e ampliação de direitos como educação, saúde e proteção social. Mudanças culturais, a condição social das mulheres, relações familiares e entre gêneros também têm importância, assim como a desigualdade.

No Brasil, é ou era especialmente relevante a gravidez precoce, indesejada e desassistida entre as mais pobres e menos escolarizadas.

É preciso melhoria acelerada na educação, com novo planejamento para a escola básica, e atenção na fuga de cidadãos e cérebros, na imigração, na igualdade de direitos reprodutivos, nas questões previdenciárias. O Brasil trata com descaso suas deficiências estruturais, e o tempo vai se encurtando.

editoriais@grupofolha.com.br

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