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Atrás do mandante

Delação abre nova frente na investigação para solucionar assassinato de Marielle

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Vigília em memória da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro (RJ) - Mauro Pimentel/AFP

Há cinco anos a sociedade brasileira pergunta: "Quem mandou matar Marielle Franco?". No dia 14 de março de 2018, a vereadora carioca e o motorista Anderson Gomes foram brutalmente assassinados. Um ano depois, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos e aguardam julgamento.

Até hoje, as forças de segurança não conseguiram descobrir de onde partiu a ordem para a execução do crime. Nas últimas semanas, contudo, a investigação avançou.

Queiroz fez um acordo de delação premiada, confessou sua participação, deu detalhes sobre os homicídios e implicou terceiros. Apesar de não apontar o mandante, o depoimento abre caminhos promissores para solucionar o caso.

Em uma série de depoimentos prestados desde junho à Polícia Federal e ao Ministério Público do Rio de Janeiro, o acusado disse que, no dia do crime, foi chamado por Lessa para fazer um trabalho como motorista e que não sabia que se tratava de um assassinato.

Ambos fizeram campana na Casa das Pretas, no bairro da Lapa, onde Marielle participava de um evento. Na saída, seguiram o carro da vereadora, emparelharam e Lessa disparou os tiros.

Queiroz também apontou novos nomes. O ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa teria sido responsável pela organização do crime e por obstruções nas investigações.

A delação deflagrou, na segunda (24), a primeira fase da operação Élpis, com a prisão de Corrêa, o cumprimento de sete mandados de busca e apreensão e a intimação de seis pessoas para depoimento.

Outro nome implicado foi o de Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé. Segundo Queiroz, o policial militar teria acionado Lessa para executar o crime e estado presente em todas as ações de vigilância da rotina de Marielle.

Macalé, assassinado em 2021, já havia sido citado na CPI das milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, cujo relatório final, de 2008, pediu o indiciamento de 266 pessoas, sendo 7 políticos.

Pesquisa da Universidade Federal Fluminense mostra que, entre 2006 e 2021, a zona de atuação das milícias na capital do RJ cresceu quase 400%, chegando a cerca de 256 km² e superando a área do Comando Vermelho (206 km²).

Marielle era uma voz ativa contra a atividade de milícias e do crime organizado em comunidades pobres da sua cidade, e pode ter pagado com a vida por isso.

O assassinato de uma vereadora eleita pelo voto popular é não apenas um crime contra a vida, mas, simbolicamente, também um atentado contra a democracia.

É imperativo, portanto, que o Estado solucione o caso. A sociedade brasileira merece saber quem mandou matar Marielle Franco.

editoriais@grupofolha.com.br

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