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Carlos Bocuhy

Crise climática e saúde mental

É essencial capacitar a sociedade humana para a resiliência e proatividade

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Carlos Bocuhy

Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)

O termo solastalgia, criado em 2005 pelo filósofo australiano Glenn Albrecht, retrata um conjunto de distúrbios psicológicos em uma população em função do aquecimento climático. O medo em relação ao futuro, 18 anos após a ter surgido a expressão, nunca esteve tão presente na sociedade atual.

Há uma expectativa extremamente pessimista dos especialistas em todo o mundo sobre a possibilidade de se alcançar a meta, até 2030, de um aquecimento global de no máximo 1,5ºC, definida no Acordo de Paris, o que daria alguma esperança sobre o futuro da humanidade.

Ilustração mostra ao centro pessoa segurando o planeta terra. Ela está rodeada de problemas ambientais: água poluída, com pneus, garrafas e dinheiro. Ao seu redor fogo e fumaça, vinda de queimadas, fábricas e escapamentos de veículos.
Ilustração de Carolina Daffara sobre ecoansiedade - Carolina Daffara

As emissões de gases de efeito estufa (GEE) reportadas pelas nações à ONU estariam hoje subestimadas, conforme vários estudos. Os maiores poluidores do planeta, como EUA, Rússia e China, parecem pouco preocupados em fazer a sua parte para o cumprimento dessa meta.

A grande preocupação sobre o futuro do planeta faz estragos na saúde psicológica da população. No ano passado, o artigo "Saúde Mental e Crise Climática Global", escrito por médicos especializados no tema, entre os quais o epidemiologista ambiental Carlos Corvalan, da Organização Panamericana de Saúde (Opas), afirmava que era preciso aos países acelerar drasticamente suas respostas às mudanças climáticas, incluindo esforços para abordar seus impactos na saúde mental e no bem-estar psicossocial.

Em parte, a humanidade sofre hoje pressão assemelhada à que a colonização europeia imprimiu sobre tribos indígenas ao redor do mundo: devastação sem precedentes, em escala de apropriação territorial e exploração de commodities que descaracterizam o meio e sacrificam as condições vitais dos ecossistemas.

A expressão ecoansiedade surgiu na virada do século nos EUA. Em 2017, a Associação Americana de Psicologia apresentou seu conceito formal: "O medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas, gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras".

O escritor espanhol Héctor Garcia Barnés descreveu, em sua obra "Futurofobia", lançada também em 2022, a atual geração como que presa entre a nostalgia e o apocalipse. A insegurança no futuro retrata a sensação de vulnerabilidade que aflige o ser humano em sua sensação de perda de controle sobre os fatos do porvir, como, por exemplo, os efeitos devastadores do aquecimento global.

Todos esses estudos e constatações deveriam estar impulsionando as Nações Unidas e os Estados nacionais à implementação de soluções reparadoras: a integração dos impactos psicossociais e mentais decorrentes das mudanças climáticas em amplos programas de saúde pública, incluindo seu financiamento, integrando-as aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e ao Acordo de Paris.

É essencial o chamamento à responsabilidade solidária e colaborativa, visando mudanças comportamentais para eliminar as causas das mudanças climáticas, capacitando a sociedade humana para a resiliência e a proatividade.

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