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Afonso Borges

Ivo Pitanguy, 100: ainda está em tempo

Centenário do cirurgião é oportunidade para lembrar de um orgulho da medicina nacional

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Afonso Borges

Escritor, jornalista e gestor cultural

Em 5 de julho de 2023, Ivo Pitanguy, se vivo, faria 100 anos. A data passou despercebida. Mas esta história poderia ter outro final. Ou, pelo menos, outro meio.

Ivo Pitanguy quase foi escritor profissional. Fez o curso primário no Grupo Escolar Affonso Pena, em Belo Horizonte, ao lado de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Otto Lara Rezende. Nunca foi o primeiro da turma, mas, influenciado pelos colegas, dedicava grande parte de seu tempo aos livros e à convivência com escritores. Nadou no Minas Tênis Clube e ganhou alguns torneios, como o contemporâneo Sabino.

Mas a vida deste quase escritor deu uma guinada. No segundo ano de medicina, na UFMG, entrou para o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), interrompendo a faculdade. Para continuar, teve que mudar-se para o Rio de Janeiro, onde passou o resto de sua vida, assim como todos da sua geração —Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Figueiredo, Sábato Magaldi e os "quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse": Fernando, Paulo, Hélio e Otto.

O Rio de Janeiro era o caminho natural. Otto brincava que mineiro não perguntava se ia mudar-se para o Rio —perguntava quando. Pois este quase escritor completou o curso de medicina, rodou o mundo, tornou-se uma celebridade planetária em sua especialidade, a cirurgia plástica, e passou a vida clinicando para pobres e ricos. Em 1990, entrou para a Academia Brasileira de Letras.

Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy morreu aos 93 anos. Deixou um excelente livro autobiográfico, "Viver Vale a Pena". Um exemplo, uma referência, um orgulho de Minas e do Brasil. Afinal, um país que teve um Ivo Pitanguy não precisa se ressentir por não conquistado um Nobel de Medicina.

Ou quem sabe, por linhas tortas e se a poesia da vida fosse outra, um Nobel de Literatura? Hora de parar e comemorar o centenário de Ivo Pitanguy. Ainda está em tempo.

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