Descrição de chapéu
Helena Nader

Não há sustentabilidade sem ciência

O MCTI deve ter o papel de destaque que lhe cabe na organização da COP30

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Helena Nader

Presidente da Academia Brasileira de Ciências e professora titular da Unifesp

É notável a contribuição da ciência brasileira para uma pluralidade de domínios em nossa sociedade. Da pesquisa acadêmica pura à tecnologia e inovação, a ciência faz avançar nosso entendimento de mundo e nosso progresso como país. Talvez em nenhum outro âmbito seu impacto seja tão claro quanto no da sustentabilidade, em seu significado mais holístico.

A ciência produzida no Brasil vem desempenhando um papel central no combate às mudanças climáticas, na conservação de biomas, no avanço do uso sustentável da terra e no caminho em direção à saúde única. Ressalto que este último conceito é particularmente relevante para o avanço da Agenda 2030, estabelecida pelas Nações Unidas. É o elemento que perpassa boa parte dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A noção de saúde única está sendo cada vez mais explorada pela comunidade científica, em especial desde 2004, quando da conferência One World One Health, em Nova York. Na ocasião, foram estabelecidos 12 princípios para combater de forma interdisciplinar as maiores ameaças à vida saudável na Terra, partindo da ideia central de que a saúde humana é inseparável da saúde animal e da ambiental.

Essa abordagem vem se firmando como resposta à necessidade de lidar com os desafios da saúde global de maneira integrada. E só cumpriremos os chamados princípios de Manhattan, delineados há quase 20 anos, à base de muita ciência. Só a ciência evidencia o vínculo essencial entre a saúde humana, a animal e a ambiental (princípio 1). Só a ciência é capaz de elaborar abordagens para prevenir, monitorar, controlar e mitigar doenças emergentes (princípio 5). Só com ciência desenvolveremos soluções para ameaças de doenças infecciosas (princípio 6).

Silhuetas pretas de pessoas com os braços levantados em comemoração e um fundo de objetos associados à ciência, como átomos, moléculas, livros e frascos.
Meyrele Nascimento/SoU_Ciência

Há, assim, um elo indissolúvel entre saúde única e ciência. O protagonismo desta é condição necessária para alcançarmos o almejado equilíbrio homem-ambiente. Ciente disso, a Academia Brasileira de Ciências, juntamente com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, manifestou recentemente preocupação e surpresa com a ausência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no Conselho Nacional instituído para a 30ª Conferência das Partes, a ser realizada em Belém em 2025.

Estamos certos de que o governo brasileiro saberá prontamente sanar o engano, para que o MCTI possa ter o papel de destaque que lhe cabe na organização da COP30. É o que seria condizente com a intensificação das ações do Poder Executivo no cenário externo em prol da mitigação das mudanças climáticas.

Nos últimos dias, o presidente Lula assinou artigo de opinião nesse sentido com outros 12 chefes de Estado e da União Europeia, em texto publicado na íntegra nesta Folha. Os mandatários defendem a convergência entre redução da pobreza e proteção do planeta. Destacam ainda a necessidade de uma transição ecológica justa para viabilizar o desenvolvimento sustentável e inclusivo, reiterando que o momento é de aceleração do progresso mundial rumo aos 17 ODS. Mais uma vez, só com ciência chegaremos lá.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.