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O que a Folha pensa mudança climática

No calor da hora

Dados alarmantes do clima global contrastam com inação de governos e empresas

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Homem se refresca em fonte na cidade de Guadalajara (México), num dos dias mais quentes já registrados - Ulises Ruiz/AFP

A torrente de notícias das últimas semanas sobre recordes de alta temperatura na Terra foi de atordoar. Difícil de assimilar, em particular por brasileiros do Sul e Sudeste que batiam os dentes sob mínimas abaixo dos 10ºC.

Céticos da mudança do clima não se cansam de semear dúvidas ao embaralhar as escalas da meteorologia, de alcance local ou regional, no curto prazo, e do clima, mais para o global a médio e longo prazos. Trânsfugas da racionalidade se apressam a questionar: Como assim, dia mais quente, com esse frio de rachar?

Não há contradição. Os recordes se referem à temperatura média da atmosfera terrestre, cifra abstrata computada com base em milhões de dados coletados por satélites, estações meteorológicas, aeronaves de pesquisa e boias oceânicas.

Com esse cabedal de mensurações a Universidade do Maine (EUA) constatou três quebras sucessivas de recordes diários, na segunda (3), na terça e na quinta-feira da semana passada, respectivamente 17,01ºC, 17,18ºC e 17,23ºC. Médias muito próximas foram calculadas pelo observatório europeu de mudanças climáticas, Copernicus.

Tais variações em centésimos de graus Celsius podem parecer insignificantes, mas cumpre lembrar que são valores médios globais, sob os quais se ocultam preocupantes anomalias localizadas. De todo modo, mesmo em sua abstração os dados suscitam alarme, pois vêm corroborados por outros.

Junho foi o mais quente já registrado, segundo o Copernicus. O gelo marinho em torno da Antártida alcançou a menor extensão para esse mesmo mês. Oceanos do hemisfério Norte estão entre 0,5ºC e 5ºC mais aquecidos que o usual. Um El Niño se arma no Pacífico para catapultar 2023 ao pódio de ano mais escaldante.

A tendência de aquecimento global se patenteia, porém segue ignorada, na prática, por negociações internacionais que só andam de lado. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, "as mudanças climáticas estão fora de controle".

Eventos extremos como as chuvas em Alagoas e os incêndios florestais no Canadá se tornam cada vez mais frequentes. Governantes, diplomatas e empresários, na zona de conforto assegurada pela dissonância cognitiva que confunde a opinião pública, agem como se estivessem em 1992.

Lá se foram 31 anos desde a Cúpula da Terra no Rio, e desde então as emissões de carbono só fizeram subir. Agora, para conter o aquecimento, há que ceifar pelo menos 40% dessa poluição climática até 2030 e neutralizá-la até 2050.

As convicções são apenas parciais, contudo, como exemplifica o governo brasileiro, que se empenha contra o desmatamento mas ainda se inebria com a pujança petrolífera e automobilística.

editoriais@grupofolha.com.br

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