Desde o começo da série histórica do Ministério da Saúde sobre a incidência da dengue, em 2000, observa-se aumento da gravidade da moléstia, com mais casos notificados, hospitalizações e óbitos.
Entre 2000 e 2010, foram registrados 4,5 milhões de casos e 1.869 mortes. Já na década seguinte, os números saltaram para 9,5 milhões e 5.385, respectivamente.
Uma vacina para conter essa arbovirose —doença transmitida por insetos— é, portanto, premente.
A boa notícia é que o imunizante japonês Qdenga, que tem eficácia de 80%, foi aprovado para venda no país em março. A má notícia é que ele custa no mínimo R$ 301,27 e, pior, não se sabe quando será ofertado pelo sistema público de saúde.
Isso porque a vacina corre o risco de se perder nos meandros kafikianos da burocracia estatal. Mesmo com aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que atestou segurança e eficácia para comercialização, ela ainda precisa ser analisada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde para ser distribuída gratuitamente.
O laboratório japonês pretende solicitar pedido à Conitec neste mês, porém o prazo para o parecer do órgão é de 180 dias. Nos primeiros 180 dias deste ano, já foram registrados mais de 1,3 milhão de casos, e 635 brasileiros morreram devido à dengue.
Não faz sentido que pequena parcela da população, a que pode pagar, tenha acesso ao imunizante enquanto a maioria fique à mercê de um vírus que pode ser fatal.
Os ciclos epidêmicos de dengue vêm se agravando neste século, mas o gasto público para pesquisas sobre arboviroses se manteve praticamente estagnado entre 2004 e 2020, segundo levantamento feito pela Universidade de Brasília.
Ademais, 81% da verba foi para pesquisas biomédicas, que investigam mecanismos das doenças, e só 11% foram para pesquisas clínicas, que podem gerar vacinas.
Há 14 anos o Instituto Butantan desenvolve um imunizante, mas a data prevista para submissão do estudo à Anvisa é dezembro de 2024.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o fenômeno El Niño, ao provocar fortes chuvas na América do Sul, tende a aumentar a disseminação de arboviroses em 2023 e 2024. Um país tropical com histórico de crises sanitárias causadas pelo mosquito da dengue deveria racionalizar a alocação de recursos e agilizar a burocracia para combater essa enfermidade.
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