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Assassinato de candidato a presidente agrava degradação política no Equador

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Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador assassinado na quarta-feira (9) - Karen Toro/Reuters

Um dos países mais instáveis da América Latina, o Equador experimentou novo patamar de degradação institucional nesta quarta (9), com o assassinato a tiros do segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para o pleito presidencial do próximo dia 20.

Fernando Villavicencio, 59, era um conhecido jornalista e ex-deputado cuja atuação ativista era marcada pelo enfrentamento público da grave violência associada ao narcotráfico no país.

De centro-direita, ele tinha 13,5% das intenções na mais recente sondagem sobre a eleição, atrás da esquerdista Luisa González, nome apoiado pelo influente ex-presidente Rafael Correa —que governou o país de 2007 a 2017, período de rara constância na vida equatoriana.

Mas tal estabilidade teve como preço a cristalização de grupos no poder, com alta da corrupção e, agora, da violência. Atuam na nação diversos cartéis ligados ao tráfico dos grandes produtores de cocaína do mundo, os vizinhos Peru e Colômbia, além de grupos locais.

A criminalidade explodiu, e o número de homicídios é 245% maior neste ano, em comparação ao mesmo período de 2021. Guayaquil, principal porto do país, entrou de vez no mapa do fluxo internacional de narcóticos.

Um grupo ligado ao tráfico assumiu a autoria do atentado, em mensagem de autenticidade ainda duvidosa. O comunicado insinua que o assassinato de Villavicencio decorreu de um acordo não cumprido por ele com os criminosos.

É incerto se a alegação procede ou se é cortina de fumaça, dada a retórica pública agressiva do candidato contra os traficantes. O impacto da barbárie ainda terá de ser medido do ponto de vista eleitoral —em tese ao menos, o clima de medo favorece nomes da direita.

Mais evidente é o estado precário da democracia equatoriana, que teve 15 presidentes desde que foi restabelecida, em 1979. Cinco deles nunca viram o segundo ano completo de seu mandato.

O atual, o direitista Guillermo Lasso, encarna tal balbúrdia. Em seu governo, iniciado em 2021, o fracasso em robustecer a economia após o tombo da pandemia de Covid-19 ajudou a fomentar protestos de rua, organizados principalmente por associações indígenas —como em toda a região, atores centrais do processo político.

Para escapar de um impeachment por denúncias de corrupção, Lasso recorreu em maio pela primeira vez a um instrumento de dissolução do Parlamento e convocação de eleições gerais.

Apesar de o presidente dizer que o pleito do dia 20 está garantido, o estado de exceção decretado devido ao assassinato de Villavicencio joga ainda mais sombras sobre a tortuosa via institucional do país.

editoriais@grupofolha.com.br

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