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Dissenso amazônico

Exploração de petróleo na margem equatorial abala liderança ambiental de Lula

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Gustavo Petro, presidente da Colômbia, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Cúpula da Amazônia, em Belém (PA) - Cristian Garavito Cruz/Presidência

Frustração seria palavra forte demais para qualificar a Declaração de Belém, carta da Cúpula da Amazônia assinada na terça-feira (8) pelos oito países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Declarações diplomáticas resultam de consensos arduamente alcançados e, no geral, tendem a consagrar platitudes.

Nesse caso, comemora-se que o texto abrigue o compromisso dos signatários de evitar o chamado ponto de não retorno. Trata-se da projeção de que o desmatamento pode levar ao colapso da floresta amazônica, quando ela deixaria de reciclar chuvas e entraria em processo de ressecamento em cadeia.

É um avanço. Os governos regionais se curvam à ciência, que aponta um limiar de devastação entre 20% e 25% do bioma como gatilho capaz de deflagrar o que antes se designava como "savanização".

No caso do Brasil, que detém 60% da maior floresta tropical do planeta, o corte raso já abocanhou 17,4%. Considerando os oito membros da OTCA, a cifra é de 17,6%.

Tal reconhecimento deveria ter como corolário uma meta específica de contenção do desmatamento, como não ultrapassar a fronteira de 20% de destruição, por exemplo. Não se deu esse passo, assim como não vingou a pretensão do Planalto de abarcar as outras sete nações em seu compromisso com o desmate zero até 2030.

A liderança internacional de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em temas de meio ambiente se mostra, assim, contrastada em sua área de influência mais próxima.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, despontou como antagonista do brasileiro em Belém. Se Lula não logrou adesão ao desmatamento zero, Petro tampouco viu entronizada sua proposta de condenar a exploração de petróleo na Amazônia. Em suas declarações, porém, vocalizou dissenso.

O colombiano apontou negacionismo anticientífico no discurso da "transição energética" mantido pelos desenvolvimentistas do PT e da Petrobras. Seu alvo era a extração de óleo e gás na margem equatorial, bacia que se estende a partir da foz do Amazonas —empreendimento ora barrado pelo Ibama, mas ainda objeto de forte pressão.

Em comparação com Venezuela, Brasil e Equador, a Colômbia tem poucas reservas de hidrocarbonetos, parte delas na Amazônia. Petro parece ter entrevisto na questão uma oportunidade para se perfilar no partido da ciência e dos países que advogam ação mais firme no enfrentamento da crise do clima.

Lula estacionou numa posição ambígua. Dá uma pancada no cravo, ao propor desmatamento zero, e outra na ferradura, ao defender a continuidade da prospecção de petróleo —uma das maiores fontes de gases do efeito estufa.

editoriais@grupofolha.com.br

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