Descrição de chapéu
O que a Folha pensa mudança climática

Ciclones políticos

Governantes devem respostas mais concretas para enfrentar desastres climáticos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Bombeiro em meio aos escombros causados pelas enchentes, no Vale do Taquari (RS) - Rodrigo Ziebell/GVG

Vários ciclones extratropicais vêm fustigando o sul do Brasil desde junho, em particular o Rio Grande do Sul. Com eles chegam chuvas copiosas, os rios sobem e levam pessoas, casas, lavouras, pontes, carros —tudo que estiver no caminho.

Só o último evento climático extremo, na semana passada, custou 47 vidas e deixou ao menos 25 mil desabrigados; há três meses, outra enchente já havia provocado 16 mortes. São tragédias humanas e prejuízos de impacto incomum, com uma centena de municípios em calamidade pública.

O governador Eduardo Leite (PSDB) busca mitigar a provação que se abate sobre os gaúchos: máquinas e homens para ajudar na limpeza das áreas flageladas, com custo orçado em R$ 10 milhões; outros R$ 25 milhões para pagar R$ 2.500 a cada família desabrigada e R$ 700 para as atingidas que ainda contam com um teto.

É a reação esperável de um líder político às voltas com desastre dessa proporção. Porém foi inadequado inculpar modelos meteorológicos, que não teriam previsto chuvas localizadas de mais de 300 mm, por sua administração apanhada de surpresa na hecatombe.

Ao menos um instituto teria dado o alerta com cinco dias de antecedência. Não que se pudesse preparar algo de monta nesse prazo. O problema maior diante da emergência climática que assola o planeta está na recusa de governantes, planejadores, empresários e eleitores a enxergar o óbvio e se precaver para o que ela nos reserva.

Eventos climáticos extremos como esses ciclones até empalidecem quando comparados com o que se viu na Líbia —onde inundações causam mais de 5.000 mortes, talvez 10 mil, numa região desértica.

Engalfinhar-se politizando a desgraça humanitária é uma cortina de fumaça a que muitos recorrem para ocultar o elefante na sala. À esquerda, tenta-se incriminar Leite, de partido adversário, por omissão que em realidade é universal entre políticos, ao menos na proporção e na tempestividade que a emergência climática exigiria.

À direita, fabricam-se lendas sobre comportas de hidrelétricas construídas em governos petistas para ver se o temporal respinga lama na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas também é descabido o Planalto mobilizar aparato de Estado contra um jornalista que propaga a patranha.

O mais importante corre o risco de ficar ofuscado. Quais são os planos para preparar a população, as cidades e a economia para a mudança climática que bate à porta? Gaúchos e demais terráqueos aguardam respostas.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.