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Crise no Cáucaso

Tomada de área armênia pelo Azerbaijão muda geopolítica e traz risco humanitário

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Evacuação de civis do território armênio Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão - Russian Defence Ministry/Handout via REUTERS

Enquanto os olhos do mundo se voltavam para buscar algo relevante na esvaziada Assembleia-Geral da ONU, na semana passada, uma revolução geopolítica ocorria no remoto sul do Cáucaso, um dos pontos de fratura entre impérios ao longo dos séculos.

Trinta e dois anos de conflito em torno do enclave de etnia armênia de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, foram encerrados com algumas horas de bombardeio pelas tropas do autocrata Ilham Aliyev, no poder desde 2003 em Baku.

Não foi pouco o sangue que correu naquele trecho montanhoso, ocupado por armênios desde o século 2 antes de Cristo. Recentemente, foram duas guerras, uma de 1992 a 1994 e outra, em 2020, com talvez 20 mil mortos ao todo.

Agora, a conta mórbida ficou na casa de duas centenas, mas o risco de tragédia humanitária segue, com milhares dos cerca de 120 mil moradores da região já em busca de abrigo na Armênia enquanto o caminho ainda está aberto. Líderes locais falam em limpeza étnica.

Na raiz de tudo está a implosão, em 1991, da União Soviética, império comunista que emulava o dos Románov (1613-1917) ao tratar o Cáucaso como um quintal estratégico vital para evitar invasões.

Com o ocaso soviético, os armênios ficaram sob a proteção militar russa e partiram para a conquista de áreas em torno do bolsão étnico, que foi superado com as novas fronteiras no conflito dos anos 1990. Isso foi revertido em 2020, com um acordo precário bancado por uma força de paz de Moscou.

Agora, Baku conquista o território, amparada pela nova realidade geopolítica —a volta da Turquia ao papel de potência regional em uma complexa relação que alterna conflito e parceria com os russos.

Pesou para isso o esvaziamento relativo da posição de Vladimir Putin, cujos esforços estão concentrados na Guerra da Ucrânia. Ele e o turco Recep Tayyip Erdogan presidiram a entrega de Nagorno-Karabakh, sendo incógnita até aqui o que Ancara prometeu em troca.

Erdogan, por sua vez, já disse a que veio. Esteve com Aliyev em outro pedaço da colcha de retalhos regional, o exclave azeri de Nakhchivan, e exigiu a abertura de uma ligação por terra entre a região e os domínios dos aliados de Baku.

Como o governo armênio é visto como pouco confiável aos olhos russos, não é improvável que algum território ao sul do país seja rifado para satisfazer o turco, cenário impensável nos últimos séculos.

editoriais@grupofolha.com.br

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