Desde 2021, quando as restrições sanitárias para o controle da Covid-19 foram afrouxadas, o crescimento econômico do país tem sido superior ao esperado por analistas, ao menos os que respondem às pesquisas do Banco Central.
Novamente é o caso neste ano. Em janeiro, a projeção mediana da pesquisa apontava para alta do Produto Interno Bruto de apenas 0,7%. Diante dos dados positivos da primeira metade do ano, porém, agora se antecipam 3%.
Certamente o resultado da agropecuária, com safra recorde, ajuda. Mas há sinais de robustez também em outros segmentos, como evidenciado pelo consumo das famílias e pelos serviços, em que pese a letargia dos investimentos.
Suscitam-se, assim, questionamentos sobre os motivos para tal desempenho mesmo diante dos juros altos. Afinal, a taxa real, já descontada a inflação esperada para os próximos 12 meses, ainda ronda elevadíssimos 6,5% ao ano.
O debate é inconclusivo, como não podia ser diferente. É plausível, como creem alguns, que as reformas aprovadas desde 2016 e o maior volume de concessões e parcerias público-privadas contratadas nos últimos anos estejam impulsionando a atividade.
É provável, também, que parte relevante da explicação seja a expansão dos gastos públicos. Neste ano em particular, houve ampliação permanente de despesas próxima a R$ 150 bilhões, ainda na transição para o novo governo.
Em entrevista à Folha, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore aponta os riscos de tal conduta. Para o economista, o expansionismo fiscal eleva a taxa de juros necessária para estabilizar a inflação e, por isso, acaba por limitar o espaço para cortes na taxa Selic por parte do Banco Central.
O risco para o país é colher piores resultados econômicos no futuro, a despeito da melhora momentânea —juros mais altos prejudicam o investimento privado.
Fica reforçado, além disso, o risco de descontrole da dívida, o que eleva as taxas de longo prazo no mercado e abala a confiança de empresários e consumidores, contribuindo para desacelerar a economia.
No contexto atual, o mais adequado seria obedecer à disciplina orçamentária —primordialmente com maior controle dos gastos. Seria aberto, assim, espaço substancial para que o Banco Central corte os juros. Infelizmente, até o momento, os sinais do governo petista vão na direção oposta.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.