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O que a Folha pensa PIB

A surpresa do PIB

Alta supera projeções, mas investimentos são necessários para avanço duradouro

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Linha de montagem de fábrica de brinquedos, em São Paulo (SP) - Eduardo Knapp/ Folhapress

Com alta de 0,9% no segundo trimestre ante o anterior, o desempenho da economia brasileira novamente surpreendeu e superou a projeção mediana de analistas, que anteviam aumento de 0,3%. O índice sugere que 2023 será mais um ano com crescimento do PIB próximo a 3%, muito acima do que era esperado há alguns meses.

O resultado importa porque pode alterar as expectativas de modo mais consistente. Havia motivos para que a alta de 1,8% do primeiro trimestre (na mesma base de comparação) fosse considerada pontual, dada a concentração na agropecuária, que teve salto de 21% em razão da safra recorde.

Ademais, indústria e serviços indicavam desaceleração, enquanto a demanda mostrou pequena alta (0,2%) do consumo das famílias e retração (3,4%) do investimento.

Agora, com os dados do segundo trimestre, há razões para duvidar dessa trajetória. A começar pela queda menor que a esperada do setor primário, de apenas 0,9%, sinal de que o patamar atingido de produção pode ser sustentado.

Houve aceleração do consumo das famílias (0,9%) e do governo (0,7%). O aumento de transferências diretas de renda a famílias pobres e de outros gastos públicos explicam parte do resultado. O dinamismo do mercado de trabalho, com desemprego baixo e salários em ritmo razoável (5% ao ano), também contribui para a robustez da demanda.

Já o investimento mostrou ínfima melhora, com alta de 0,1%, e ficou em insuficientes 17,2% do PIB, 1,1 ponto percentual abaixo do mesmo período de 2022. A estabilização é apenas um começo. Ainda há muito a percorrer para recuperar a queda dos trimestres anteriores.

Mesmo assim, nesse caso também pode se confirmar um prognóstico mais favorável conforme avance o esperado ciclo de cortes de juros, que por sua vez depende da responsabilidade do governo na gestão das contas públicas.

É provável que as taxas nas alturas desde o ano passado ainda pesem na atividade econômica adiante. O endividamento das famílias permanece alto e há escassez de crédito para empresas, sobretudo as pequenas e médias.

De todo modo, deve-se reconhecer que as surpresas positivas têm sido recorrentes desde a retomada que se seguiu à pandemia em 2021.

Além do impacto de maiores transferências de renda, o que sugeriria fôlego curto, é plausível que transformações estruturais legadas por reformas econômicas recentes estejam em andamento. Não retroceder nelas se torna, portanto, ainda mais essencial.

editoriais@grupofolha.com.br

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