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Mundo em blocos

Lula eleva tom ao assumir o G20; embate global dificulta protagonismo brasileiro

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante coletiva de imprensa na cúpula do G20, em Nova Déli (Índia) - Anushree Fadnavis/Reuters

Como numa proverbial profecia autorrealizável, a reunião de cúpula do G20 na Índia, encerrada no domingo (10), coroou um momento de divisões mundiais quase inconciliáveis, em que os interesses nacionais falam mais alto.

Pior para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente que vive fixado nos anos 2000, quando o boom das commodities colocou o Brasil em um lugar provisório de destaque na arena internacional —e o petista, como símbolo daquela era.

Lula voltou ao poder com a imagem do país abalada por Jair Bolsonaro (PL) no cenário mundial, um presente em termos de projeção e aceitação potenciais.

Em tese, a presidência rotativa do G20 daria a Lula, a partir de dezembro, um palanque global para suas pretensões, ainda por cima somado ao período final de sua liderança temporária no Mercosul.

A realidade de um planeta conflagrado e cada vez mais obediente à lógica de blocos —apesar da interdependência vigente entre as potências rivais em Washington e Pequim— dificulta tal plano.

Em Nova Déli, por exemplo, Lula fez o previsível, mas correto, discurso acerca da falta de contrapartida de nações mais desenvolvidas quando o tema é o ambiente.

Na hora de deixar a retórica, o petista encontrou a parede. Fez queixas duras ao francês Emmanuel Macron, tachando de ofensivas as exigências ambientais adicionais que a União Europeia incluiu na negociação sobre o acordo de livre comércio com o Mercosul.

Se tem razão ao dizer que elas são uma reação aos anos de descaso bolsonarista, faltou a Lula explicar o próprio protecionismo, que quer ver instalado no acerto em nome da suposta reindustrialização pregada em seu governo. E isso para não falar da perene e algo bizantina busca de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.

Lula meteu os pés entre as mãos novamente sobre a Guerra da Ucrânia, ao dizer que Vladimir Putin nunca seria preso no Brasil sob seu governo, embora a obrigação legal de cumprir a ordem do Tribunal Penal Internacional seja da Justiça. Estrago feito, recuou —e mal.

O petista pode até ter o sucesso que seu antecessor à frente do G20 (o premiê Narendra Modi) teve, mas aí importam as condições objetivas: a Índia e sua economia são o destaque da vez na política global, tanto que o americano Joe Biden foi suave ao falar da guerra.

A hipocrisia ocidental se fez presente no texto final do encontro, em que os países ricos aceitaram diluir até a natureza da conflito em que armam e apoiam Kiev, para evitar que a ausente China ficasse com os louros políticos de uma debacle total da cúpula do G20.

Nesse cipoal, o protagonismo brasileiro se torna mais difícil.

editoriais@grupofolha.com.br

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