Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Rebeldia autoritária

Democracia tem apoio global, mas adesão menor de jovens suscita preocupação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Apoiadores de Donald Trump invadem o Capitólio, em Washington (EUA) - Leah Millis - 6.jan.21/Reuters

O debate sobre um possível enfraquecimento do regime democrático de governo baseia-se em mudanças recentes no cenário política global. E, de modo inusitado, talvez os jovens tenham papel relevante na irrupção desse fenômeno.

Os EUA viveram inédito retrocesso sob Donald Trump. Na Europa, Polônia e Hungria têm líderes que se perpetuam no poder e, nos países em que a extrema direita não venceu eleições, seus partidos têm se fortalecido.

Na África, uma sucessão de golpes pôs fim a frágeis aberturas democráticas. No Brasil, houve o ensaio golpista de Jair Bolsonaro (PL).

O quadro, porém, talvez seja menos desolador do que parece.

Pesquisa da Open Society Foundations, realizada em 30 países e concluída em julho, mostra que a esmagadora maioria (86%) considera importante viver numa democracia; para 62%, ela é preferível a qualquer outra forma de governo.

Nos dois primeiros itens, o Brasil registra índices superiores à média global, de 90% e 74%. No terceiro, ficamos abaixo, com 66%.

Quando lida com recortes, entretanto, a pesquisa traz alguns dados inquietantes. A adesão dos mais jovens à democracia é menor do que a das gerações anteriores.

Apenas 57% das pessoas entre 18 e 35 anos consideram a democracia preferível a todos os outros regimes —nas faixas etárias mais elevadas, o índice é de 71%.

Ademais, 42% dos jovens acreditam que um regime militar seja uma forma aceitável de governo, e 35% acham que um líder forte, que não ligue para o Parlamento ou para eleições, seja um caminho positivo —entre aqueles com 56 anos ou mais, os percentuais são de 20% e 26%, respectivamente.

Como explicar essa lacuna entre as gerações? Uma especulação é que, como a esquerda de modo geral ficou mais moderada e institucional, é a direita, mais especificamente a extrema direita, que se torna o polo contestador radical.

Se a juventude, com seu pendor natural pela rebeldia, está se deixando atrair por essas ideias, teríamos uma explicação para o hiato geracional e o crescimento do populismo conservador no mundo.

Caso a hipótese esteja correta, resta uma dúvida cujas implicações são relevantes. Se o gosto pelo radicalismo é apenas uma fase, o recorte populacional que hoje mostra mais tolerância com o extremismo se tornará, no futuro, mais firme na defesa da democracia.

Mas, se a juventude é o momento no qual se cristalizam preferências que serão carregadas pela vida, então o flerte com autoritarismo pode ser um problema duradouro.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.