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Tensão global

Risco de expansão do conflito em Israel traz dúvida sobre papel dos EUA no mundo

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Joe Biden, presidente dos EUA, durante visita a Tel Aviv (Israel) após ataque terrorista do Hamas - Miriam Alster - 18.out.23/AFP

Desde que Israel declarou guerra ao grupo palestino Hamas, perpetrador do mais violento atentado contra o Estado judeu em seus 75 anos de existência, o planeta acompanha apreensivo o crescente risco de alastramento do confronto.

A incapacidade de o Conselho de Segurança da ONU agir de forma coordenada acerca do conflito, algo previsível dada a composição da fração do colegiado com poder de veto, ilustra a sensação de impotência de líderes mundiais.

Os olhos se voltam para os Estados Unidos, cujo recurso ao seu inigualável poderio militar ainda é esteio, mesmo com a perda relativa de influência global do país desde a ascensão chinesa.

Com efeito, o governo de Joe Biden promoveu uma enorme mobilização em favor de Israel, enviando dois grupos de porta-aviões e reforçando suas bases na região.

O motivo declarado é dissuadir o Irã, rival de Israel, de participar de forma mais ativa na guerra. Até aqui, Teerã adotou retórica inflamada, mas prática mais comedida.

Disse que não entraria no conflito, confiando a missão a seus aliados, como o Hamas e o Hezbollah libanês. Este último grupo tem por ora limitado sua ação à intensificação de escaramuças com Israel.

O Hezbollah, mais capaz que o Hamas, traria problemas para Tel Aviv se entrasse de vez no jogo. O que não é provável agora, contudo.

Não que isso torne a situação imune a escaladas. Unidades americanas na Síria e no Iraque foram atacadas por grupos ligados ao Irã, e um navio dos EUA no mar Vermelho abateu mísseis de rebeldes iemenitas bancados por Teerã.

A questão da proporcionalidade da reação de Israel, com a destruição sistemática de Gaza, alienou os países árabes moderados, e a reaproximação entre Tel Aviv e a Turquia foi abortada de vez.

A Rússia de Vladimir Putin tem elevado o tom, adicionando a defesa dos palestinos ao rol de conflitos que mantêm com o Ocidente —a Guerra da Ucrânia à frente.

O autocrata russo ameaçou navios americanos e, de forma algo teatral, promoveu uma simulação de ataque nuclear aos rivais no mesmo dia em que deixou o tratado que bania todos os testes atômicos.

Avolumam-se na imprensa relatos de que os americanos tentam segurar a reação israelense, visando priorizar o resgate dos 220 reféns nas mãos do Hamas e ganhar tempo para proteger suas bases.

A crise humanitária em Gaza também pressiona Biden, mas a história mostra que Israel é refratário a pedidos de comedimento do maior aliado quando vive crises percebidas como existenciais.

Com todo esse cipoal de perigos, os EUA têm na atual guerra um renovado desafio ao relutante papel hegemônico que podem exercer.

editoriais@grupofolha.com.br

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