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O que a Folha pensa Banco Central

BC na mira, de novo

Economia esfria e governo está longe de mostrar projeto crível de ajuste fiscal

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Adriano Machado/Reuters

Pela primeira vez em seis meses, economistas ouvidos regularmente pelo Banco Central diminuíram nesta semana a previsão para o crescimento do PIB deste ano, passando a estimá-lo em 2,9%.

O resultado se seguiu à divulgação do IBC-Br, índice da autoridade monetária considerado prévia do Produto Interno Bruto. O indicador caiu 0,77% em agosto em relação a julho, em recuo muito acima do projetado pelo mercado.

Na mesma direção, o Índice de Confiança do Consumidor da FGV-Ibre, que apura o humor das famílias em relação à economia e sua propensão ao consumo, cedeu 3,8 pontos em outubro, após quatro meses de altas consecutivas.

Os dados não sinalizam uma freada, mas desaceleração que pode ter maiores consequências a médio prazo, pois há quatro meses a arrecadação do governo federal, em grave crise fiscal, está em queda. Quanto mais a economia esfriar, pior para as contas públicas.

Boa parte do crescimento da atividade até o terceiro trimestre deveu-se, principalmente, ao dinheiro público despejado por Jair Bolsonaro (PL) no período eleitoral, ao desempenho da agricultura no começo do ano e aos gastos bilionários do governo Lula (PT) autorizados pelo Congresso na chamada PEC da Transição, de dezembro de 2022. Aparentemente, os efeitos desta gastança chegam ao fim.

Como resposta à desaceleração, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) ensaiou repetir a estratégia deletéria do início do ano de culpar o Banco Central e os juros altos para o combate da inflação. Recentemente, disse que Estados Unidos e Europa não estão buscando a todo custo baixar os preços para não "liquidar a economia real".

As declarações vieram um dia depois de o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmar que ainda há preocupações em relação ao equilíbrio das contas públicas. Segundo ele, sem o ajuste fiscal, a queda dos juros pode demorar.

Para complicar, consolida-se a percepção de que os juros nos EUA permanecerão elevados por um bom tempo, refletindo o aumento da dívida pública do país e sua necessidade de financiamento. Neste cenário, títulos do Tesouro americano atrairão dólares do mundo todo, elevando sua cotação e pressionado a inflação de países como o Brasil. Para o BC, é mais um obstáculo para a redução dos juros.

Anunciando novos gastos quase que diariamente, o governo Lula colocou, de forma irresponsável, todo o peso do ajuste fiscal no aumento da arrecadação, que se frustra. Outras ações nesta linha dependem do Congresso, mas são incertas perto do fim do ano legislativo.

Com a deixa de Haddad, parece questão de tempo para a volta dos ataques de Lula ao Banco Central.

editoriais@grupofolha.com.br

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