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Atividade em queda

Recuo da economia não surpreende; deve-se persistir no ajuste para reduzir juros

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Movimento de consumidores em loja na região da 25 de Março, em São Paulo (SP) - Rubens Cavallari/Folhapress

Depois de bons resultados no primeiro semestre deste ano, quando houve crescimento acima das expectativas, a atividade econômica mostra uma nítida perda de ritmo nos dados mais recentes.

O indicador do Banco Central que combina resultados da indústria, dos serviços e da agropecuária apontou queda de 0,64% no terceiro trimestre, o que sugere retração do PIB no período.

Os dados devem impactar as projeções de analistas para o desempenho deste ano —que rondavam alta de 2,9% na pesquisa anterior do BC. O governo ainda prevê 3,2%, prognóstico a esta altura otimista.

A queda trimestral não chega a surpreender, dado que sempre se considerou provável menor vigor econômico na segunda metade do ano, conforme se esgotassem os efeitos da safra agrícola recorde e da expansão de gastos públicos. Os juros altos para debelar a inflação também já se fizeram sentir.

Mesmo com algum arrefecimento, vale lembrar, o avanço de 2023 dificilmente ficará abaixo de 2,5%, muito mais do que se esperava no início do ano —cerca de 1%.

Em contrapartida, há a boa notícia da redução consistente da inflação, que mantém espaço para que o BC continue cortando a taxa básica de juros, de 11,75% anuais hoje para 9,25% em 2024, segundo a pesquisa entre analistas.

O alívio inflacionário atinge itens fundamentais para a população de baixa renda, como alimentos. Ainda que em menor velocidade, crescem o emprego e os salários, de modo que na soma geral a situação não chega a ser ruim.

É preciso cautela, porém, quanto a riscos que parecem emergir. Juros altos no exterior afetam as perspectivas de EUA e Europa, enquanto a China passa por problemas financeiros que dificultam uma retomada forte. Não se pode descartar um cenário recessivo.

A maior fragilidade hoje é a persistente incerteza sobre os rumos da gestão orçamentária doméstica, como demonstrado pelas oscilações do governo em relação à manutenção da meta de zerar o déficit do Tesouro e o flerte com soluções criativas para evitar contingenciamento de gastos, ainda mais num ano eleitoral.

Por ora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conseguiu adiar a decisão de revisão da meta para o início do ano que vem, a depender do avanço da agenda legislativa por mais arrecadação.

Mas a dimensão e a duração da desaceleração nos próximos meses pode trazer ansiedade e afetar os cálculos políticos do governo.

A pior decisão seria a de embarcar em mais intervencionismo e ampliar as despesas. Cumpre reforçar a credibilidade ainda baixa da nova regra fiscal e favorecer a redução duradoura dos juros.

editoriais@grupofolha.com.br

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