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O que a Folha pensa

Preservar o IBGE

Preocupam falas do chefe do instituto, que deve ser tratado como órgão de Estado

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Marcio Pochmann, durante sua posse como presidente do IBGE, em Brasília (DF) - Gabriela Biló /Folhapress

São justificáveis os temores suscitados por declarações recentes e um tanto obscuras do presidente do IBGE, Marcio Pochmann.

Durante palestra a servidores do órgão, o economista aventurou-se a filosofar sobre a produção das estatísticas do instituto, a seu ver moldada somente em experiências de países do Ocidente como Estados Unidos, Inglaterra e França.

Haveria que considerar, postulou, "o deslocamento do centro dinâmico do mundo para o Oriente" —e o exemplo que lhe ocorreu foi o da ditadura chinesa, notória pela divulgação de dados duvidosos.

Da mesma maneira tortuosa, Pochmann também anunciou o que parece ser uma nova era da divulgação dos números do órgão. "A comunicação do passado era aquela em que o IBGE produzia as informações, os dados, fazia uma coletiva e transferia a responsabilidade para o grande público através dos meios de comunicação tradicional. Isso ficou para trás."

E completou: "Hoje cada um de nós tem a capacidade de comunicação, é um produtor de informação também, de análise, de opinião. Isso tem gerado uma sociedade complexa, inclusive pelo fato da difusão de fake news, de mentiras".

O discurso poderia ser tomado como devaneio momentâneo ou falatório vazio —não fosse a muito conhecida trajetória de Pochmann.

Adepto fervoroso das teses econômicas mais exóticas da esquerda latino-americana, o presidente do respeitadíssimo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística chegou ao posto graças a sua fidelidade ao correligionário Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em administrações passadas do partido, de 2007 a 2012, teve passagem desastrosa pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (Ipea), quando comprometeu a credibilidade da instituição ao alinhá-la à agenda política do Planalto.

Uma conduta assim teria consequências muito mais funestas no IBGE —ao qual cabem estatísticas fundamentais como o tamanho da população, a expansão da economia e a situação do mercado de trabalho, que guiam políticas públicas e embasam as avaliações domésticas e globais sobre a governança do país.

Trata-se de órgão de Estado, não de governo, cujo trabalho deve seguir diretrizes transparentes e estar a cargo de um quadro de servidores qualificados. Até onde se sabe, tais condições têm sido respeitadas por governos de diferentes orientações. Que assim continuem.

editoriais@grupofolha.com.br

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