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O que a Folha pensa guerra israel-hamas

Falsa equivalência

Lula agride mortos ao comparar ação de Israel, passível de críticas, a do Hamas

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebe repatriados da Faixa de Gaza, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira/Folhapress

A cena era de celebração justa, descontando-se o oportunismo que qualquer político abraçaria. Trinta e dois brasileiros retirados do risco de morte na Faixa de Gaza foram recebidos em Brasília por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem trataram como salvador.

Na ação de repatriação ordenada pelo presidente, 1.410 brasileiros foram removidos de Israel e 32, da Cisjordânia. Faltava o grupo de Gaza, que viveu um calvário.

O motivo era o intrincado sistema de liberação de estrangeiros na região, acordado por Israel, que não quer ver terroristas fugindo disfarçados, pelo Egito, que não aceita imigração de palestinos, e pelos mediadores EUA e Qatar.

Depois de muito vaivém, enfim o grupo brasileiro conseguiu chegar a Brasília na segunda (13).
Mas aí Lula resolveu abrir a boca. Como de costume nos improvisos que faz, falou um misto de mistificação e impropriedades, incompatíveis com o cargo que ocupa.

Ele já havia sugerido que Israel era responsável pela retenção dos brasileiros, ecoando tese da esquerda segundo a qual Tel Aviv quis retaliar a condução da discussão da crise no Conselho de Segurança da ONU, presidido por acaso pelo Brasil quando a guerra estourou.

Não há evidência disso. O Brasil apenas não é ator prioritário: os EUA, além de seu peso, tinham 1.600 pessoas para resgatar.

Na pista, ao lado de um repatriado que havia pedido a explosão de ônibus israelenses em rede social, comparou a campanha militar aos ataques do Hamas. Nas suas palavras, ambos são terroristas.

Antes, Lula havia acusado com a ligeireza usual os israelenses de genocídio. A proporcionalidade da reação de Israel é passível de críticas, por óbvio —tanto que o país as sofre até de aliados e vê uma onda de antissemitismo mundial crescer na esteira da guerra. As políticas opressivas de Tel Aviv para os palestinos, idem.

Mas o Hamas atacou brutalmente inocentes. O grupo comandava Gaza como uma teocracia autoritária e violenta, sem reconhecimento internacional ou apoio consensual entre os palestinos.

Israel é uma democracia, imperfeita como todas e marcada por contradições —mas uma democracia.

Seus eventuais erros ou crimes na guerra podem e devem ser objeto de escrutínio, e a conta de 11,2 mil palestinos mortos evidentemente é chocante.

O petista encontrou tempo posteriormente até para passar vergonha científica, associando o uso de bombas à mudança climática.

A falsa equivalência de Lula, que agora pode prejudicar eventuais novas repatriações, não se sustenta. Em nome de sua vaidosa busca por destaque global e exalando o DNA do PT, ele agrediu não só Israel, mas a memória dos 1.200 mortos e 240 reféns vítimas do Hamas.

editoriais@grupofolha.com.br

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