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O que a Folha pensa mudança climática

Calor, fogo e fumaça

El Niño, aquecimento global e queimadas fazem de 2023 um ano de recordes

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Termômetro registra 40º na avenida Paulista, em São Paulo (SP) - EPA-EFE/REX/Shutterstock

O desmatamento caiu 22% na Amazônia em 2023, porém as queimadas no país —mais da metade delas apenas nesse bioma— superam recordes. Cidades como Manaus estão cobertas de fumaça. Com a crise do clima na Terra, tudo parece fora de ordem.

A onda de calor a escaldar o Brasil incinera as derradeiras dúvidas sobre o aquecimento global. Ela se encaixa à perfeição no conceito de eventos extremos para os quais cientistas vêm alertando, há décadas, às vezes para ouvidos moucos.

A canícula tem explicação. Está relacionada ao fenômeno El Niño, em que águas superficiais anormalmente aquecidas no Pacífico bagunçam o clima do globo e devem tornar este 2023 o mais quente em 125 mil anos.

O descompasso entre redução no desmate e aumento de incêndios também conta com explicação, ainda que não intuitiva. A floresta amazônica enfrenta estiagem inaudita, outra consequência do El Niño. Além disso, há elevação incomum da temperatura das águas do oceano Atlântico, que pode estar agravando a situação.

Nos últimos três anos houve predominância de fenômeno oposto, com La Niña, que incrementa precipitação na Amazônia. Se, em tempos normais, essa fisionomia florestal tipicamente chuvosa já se mostra muito difícil de incendiar, mais ainda nessa condição.

As enormes derrubadas ocorridas no governo Jair Bolsonaro (PL) deixaram muita biomassa no chão, mas nem toda ela foi submetida ao fogo, em vista da alta umidade. Agora, com a seca extrema, desmatadores e grileiros aproveitam para limpar os terrenos para semeadura de pastagens.

O desconcerto da opinião pública com o paradoxo amazônico decorre de uma associação imediata entre desmatamento e queimadas. São duas práticas deletérias separadas no tempo —primeiro é preciso derrubar as árvores, depois esperar que os resíduos sequem o suficiente para pegarem fogo.

É certo, entretanto, que ambas contribuem para o efeito estufa. São etapas necessárias para o carbono estocado na floresta ascender, encorpando o cobertor de gases que retêm energia solar e aquecem a atmosfera além da conta.

O Brasil leva boa notícia para a COP28 em Dubai, que começa no próximo dia 30, com o recuo na devastação da Amazônia. Está distante, porém, de contribuir mais decididamente para enfrentar a emergência climática planetária, pois o desmatamento corre solto no cerrado, seu segundo maior bioma, hoje o mais ameaçado.

Fogo, fumaça e calor ainda vão causar muitos danos à saúde humana e à do ambiente.

editoriais@grupofolha.com.br

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