A edição 2023 do Ranking Universitário Folha (RUF) confirma a superioridade das universidades públicas em relação às privadas no país. As dez instituições no topo da lista são federais ou estaduais, com USP, Unicamp e UFRGS no pódio, e a particular mais bem colocada (PUC-RS) aparece só na 19ª posição.
No entanto faculdades pagas aparecem bem colocadas quando se consideram quesitos de avaliação isolados. Para compor a nota geral, são analisados cinco critérios: pesquisa, ensino, internacionalização, inovação e mercado.
Das 20 instituições mais bem posicionadas nos dois primeiros quesitos, só há uma privada em pesquisa e nenhuma em ensino. Já em internacionalização, aparecem 5 particulares, em inovação há 4, e em mercado, 7.
A produção cientifica brasileira, portanto, está concentrada em instituições públicas e em centros das regiões Sul e Sudeste. O que, em si, não representa necessariamente um problema. Países como China, Canadá e Austrália direcionam mais da metade do financiamento em pesquisa para um grupo seleto de universidades, que gira em torno de 10 a 15.
Já a lei brasileira exige homogeneidade entre as mais de 200 universidades —pesquisa e extensão na mesma proporção e número mínimo de cursos de graduação e pós-graduação, por exemplo.
Ainda em relação às particulares, o poder público deve dar atenção à explosão do ensino à distância, principal fenômeno recente da educação superior nacional.
Dos 9,4 milhões de matriculados na graduação no ano passado, mais de 2,5 milhões (27%) estudavam em somente cinco universidades privadas, sendo cerca de 2,3 milhões em EAD.
Quantidade que não raro é acompanhada de deficiências de qualidade, como indicam o RUF e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) —que, mesmo com problemas metodológicos, sinaliza precariedades.
No curso de administração, por exemplo, 31% daqueles em faculdades privadas tiraram notas 1 e 2 (menos de 3, numa escala até 5, é considerado inadequado); já nas públicas, o índice foi de 11%. Considerando instituições públicas e privadas, 27,4% dos cursos presenciais alcançaram 4 e 5 (notas máximas); no ensino à distância, 17,9%.
Não se trata de estigmatizar a tecnologia e as instituições particulares. Mas é preciso fiscalizar o uso das ferramentas, implementar avaliações mais precisas e também estimular a diversidade no ensino superior, que não se presta somente à produção acadêmica.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.