Descrição de chapéu
Maria Alice Setubal (Neca)

A realidade das juventudes brasileiras exige ações urgentes

País tem 5,2 milhões de jovens entre 14 e 24 anos desempregados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Maria Alice Setubal (Neca)

Doutora em psicologia da educação (PUC-SP), socióloga e presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal

Às vésperas de concluir o primeiro ano do terceiro mandato, o presidente Lula mantém a trajetória iniciada no início dos anos 2000 ao retomar e atualizar políticas públicas que priorizam as questões sociais. Desta vez, entretanto, há um investimento especial em um recorte transversal a todas as esferas governamentais e que pode ser determinante para o modelo de país a que ambicionamos: as juventudes –no plural, sim, porque os jovens brasileiros precisam ser contemplados em sua diversidade regional, social, religiosa e de orientação sexual.

Chegamos a 45,3 milhões de adolescentes e jovens vivendo no Brasil hoje, segundo o Censo demográfico 2022. As políticas públicas estruturantes e perenes para essa população são recentes e demandam aprimoramentos e, principalmente, olhar especial para o combate às desigualdades.

Distribuição de alimentos durante as férias escolares organizada pela Cufa (Central Única das Favelas) em Heliópolis, zona sul de São Paulo, em 2021 - Danilo Verpa/Folhapress

O recém-lançado Pacto Nacional pela Inclusão Produtiva das Juventudes vai ao encontro dessa diretriz e, dadas sua diversidade de atores e sua consistência na proposta, representa um trabalho coletivo ímpar multissetorial. A iniciativa reúne o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e visa à construção de uma política pública nacional para promover a inclusão produtiva das juventudes em situação de vulnerabilidade até 2030, por meio do projeto Um Milhão de Oportunidades (1MiO).

Pacto Nacional pela Inclusão Produtiva das Juventudes
Tela do Pacto Nacional pela Inclusão Produtiva das Juventudes - Reprodução

O movimento, que propõe compromissos para cada agente transformador (governos, empresas, organizações da sociedade civil etc.), está colhendo adesões em um chamado coletivo. A justificativa do foco na inclusão produtiva dos jovens se baseia em números como os divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): uma em cada cinco pessoas nessa faixa etária (que representam 10,9 milhões de indivíduos) não está trabalhando nem estudando. Além disso, segundo o MTE, o desemprego entre eles é, na média, o dobro do da população geral. Hoje, o país tem 5,2 milhões de jovens entre 14 e 24 anos desempregados.

Site do projeto Um Milhão de Oportunidades
Site do projeto Um Milhão de Oportunidades - Reprodução

Nesse contexto, o papel das empresas merece atenção especial. É fundamental que ofereçam um trabalho digno, que proporcione o desenvolvimento pleno de uma carreira. Há mecanismos legais que viabilizam e estimulam a entrada dos jovens no mercado de trabalho, como a Lei da Aprendizagem, em vigor desde 2000. Mas é preciso ir além e investir na permanência dessa população em seus empregos, principalmente os jovens das periferias. Isso demanda atualização nos processos e foco em áreas promissoras do mercado de trabalho, como a tecnologia e as chamadas economias do cuidado, criativa e verde.

O novo pacto propõe compromissos específicos para o setor privado, destacando a importância da formação e da articulação entre educação e trabalho. As conclusões da mais recente prova do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) reforçam essa necessidade. Um roteiro de boas práticas que pode nortear a dinâmica das empresas e uma oportunidade para firmarem compromisso com o futuro do país.

No recorte de raça e gênero dos indicadores que sustentam a iniciativa, vale destacar um dado que deve orientar as políticas públicas para as juventudes: 55% dos jovens fora do mercado de trabalho são mulheres e pessoas pretas e pardas, segundo o MTE. Outro fator reforça a segregação racial: dos 47.508 mortos por violência intencional no país em 2022, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 76,5% eram negros.

O que nos remete a outra política pública lançada pelo governo federal por meio do Ministério da Igualdade Racial (MIR): o Plano Juventude Negra Viva –uma atualização do antigo Juventude Viva, criado em 2013, agora com o foco na população negra jovem. O programa envolve diversos ministérios, entre eles o da Educação, o da Justiça e o dos Direitos Humanos.

Os esforços recentes do Governo Federal acertam ao priorizar as juventudes nas políticas públicas estruturantes. E, em alinhamento, as iniciativas da sociedade civil atestam a urgência de um pacto coletivo para não desperdiçarmos toda uma geração de brasileiros.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.