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O que a Folha pensa inflação

Inflação sob controle

Relação entre Lula e BC autônomo será testada com freada no PIB e novo chefe

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em encontro do G20 - Adriano Machado - 13.dez.23/Reuters

Seria otimismo excessivo ou ingenuidade imaginar que o convite ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a confraternização de fim de ano de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na noite de quinta-feira (21), selou a paz entre o governo e a instituição.

O gesto ao menos tem importância simbólica porque proporcionou uma manifestação pública de civilidade e racionalidade do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, segundo o qual críticas e cobranças relativas aos juros não devem ser entendidas como ataques ao presidente ou à autonomia do BC.

Infelizmente, não foi esse o padrão seguido por Lula e o PT neste primeiro ano de governo —e é difícil crer que o Planalto serviria churrasco a Campos Neto se o crescimento do PIB e a geração de empregos não tivessem superado as expectativas em 2023.

Os méritos econômicos devem ser creditados ao desempenho excepcional da agropecuária, ao trabalho do BC autônomo, que controlou a inflação, e ao de Haddad, que se contrapôs aos impulsos mais doidivanas do presidente da República e de seu partido.

Em outro cenário, é provável que Campos Neto —escolhido por Jair Bolsonaro (PL) e primeiro chefe da autoridade monetária com autonomia formal assegurada por mandato fixo— continuasse tratado como inimigo e bode expiatório.

O primeiro encontro entre Lula e o economista só ocorreu em setembro, o que marcou o início de uma distensão —da qual o PT, entretanto, não participou, mantendo a retórica beligerante em documento partidário recente.

A relação entre governo e BC autônomo passará por um teste crucial no ano que está prestes a começar. Salvo mais uma surpresa positiva, a economia deverá mostrar desaceleração, com riscos para os já modestos índices de popularidade de Lula e o desempenho de aliados nas eleições municipais.

Mais importante, o mandato de Campos Neto se encerrará no final de 2024, e indicados pelo governo petista passarão a compor a maioria do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado responsável pela definição dos juros.

Se Lula e o PT insistirem no discurso demagógico contra as taxas, como se elas pudessem cair à base de mero desejo político, estará criado um obstáculo contra o próprio governo —pois um BC de credibilidade abalada submeterá o país a custos maiores para manter a inflação sob controle.

editoriais@grupofolha.com.br

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