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Brasil polarizado

Açulados, lulistas e bolsonaristas não se arrependem do voto, mostra Datafolha

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Toalhas com estampas de Lula e Bolsonaro vendidas na rua 25 de Março, em São Paulo (SP) - Rubens Cavallari - 10.outu.22/Folhapress

A polarização foi a grande vitoriosa do pleito de 2022. Assim o demonstra a pesquisa do Datafolha segundo a qual 90% dos eleitores dizem não se arrepender do voto depositado na urna no ano passado.

Mais, 38% dos entrevistados afirmam confiar mais em seu candidato hoje do que no dia da eleição; para 43%, o grau de confiança é o mesmo, e apenas 18% desenvolveram maior ceticismo. Os números são similares aos de setembro, quando o instituto testou pela primeira vez essa bateria de perguntas.

Os blocos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) têm dimensões comparáveis: 30% dos eleitores se declaram petistas, e 25%, bolsonaristas, o que parece compatível com o resultado do pleito, no qual Lula venceu seu adversário por margem mínima.

Nem toda polarização é má. A chamada polarização partidária, compreendida como distinções programáticas entre diferentes agremiações, é importante para atrair atenção ao processo eleitoral e dar-lhe sentido.

Nos anos 90, não eram poucos os cientistas políticos e analistas de mídia que se queixavam da indiferenciação entre os principais grupos. A piada que se contava, na versão americana, é que tanto fazia escolher um presidente democrata ou republicano, desde que Alan Greenspan continuasse no comando do Fed, o banco central.

A polarização partidária não só retornou —aos EUA, ao Brasil e a vários outros países— como ainda trouxe consigo a polarização afetiva, caracterizada por mobilizar os sentimentos dos eleitores, notadamente os negativos em relação aos adversários.

O fenômeno se faz acompanhar de uma lista de efeitos adversos. Ele dificulta o diálogo e a formação de consensos, a alma da política, e cria sensação generalizada de mal-estar, na medida em que afasta pessoas de amigos e familiares.

Pior, a polarização afetiva também tende a radicalizar as posições de cada um dos grupos, o que pode levar a extremismos.

Essa dinâmica não é das mais estáveis. Se é verdade que interessa aos líderes dos dois principais blocos estimular a divisão, uma vez que ela dificulta o surgimento de candidatos da terceira via, também se verifica que os resultados de pleitos passam a depender cada vez mais da fatia de eleitores mais moderados.

Uma alternativa é que candidatos busquem cortejar esses estratos, abraçando posições mais ao centro. Mas o que se vê à direita e à esquerda, no governo, é a preocupação em manter a mobilização dos apoiadores mais inflamados.

editoriais@grupofolha.com.br

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