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Assédio à Vale

Lula recua na ofensiva por Mantega; pior é tentar intervir em empresa privada

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu segundo mandato, e Guido Mantega, então ministro da Fazenda - Sergio Lima - 9.dez.10/Folhapress

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encenou um recuo em sua pretensão absurda de conduzir o ex-ministro Guido Mantega a um cargo na cúpula da Vale, mas não se deve crer que cessarão as pressões do Planalto sobre a mineradora privatizada em 1997.

Mesmo sem declarações explícitas das autoridades, o movimento governista pelo nome de Mantega foi conduzido sem segredo nas últimas semanas e derrubou o valor de mercado da empresa. Na sexta-feira (26), diante da resistência de acionistas e críticas na sociedade, Brasília fez saber que a ideia indecorosa seria deixada de lado.

Por incrível que pareça, a hipótese menos ruim para a motivação de Lula é a recusa em reconhecer os fracassos, a má gestão e os casos comprovados de corrupção ocorridos nas gestões petistas anteriores —além do objetivo de recompensar pessoas que lhe foram fiéis nos seus piores momentos.

Para tanto, não importam competência ou lisura, nem as necessidades atuais do país.

No caso de Mantega, não deve haver dúvida de que o histórico é ruinoso. Como ministro, ele teve papel na degradação da política econômica que culminou, no mandato de Dilma Rousseff (PT), em um das mais profundas recessões já documentadas no país.

Não há nenhuma injustiça nessa avaliação, como quer fazer crer a presidente do PT, Gleisi Hoffman, que saiu em apoio ao ex-titular da Fazenda. Em sua defesa, no máximo se pode dizer que não tinha autoridade suficiente para influir nos desígnios da ex-presidente.

Mais grave e temerária, porém, é a rigidez ideológica de Lula e de seu partido, que continuam presos a concepções anacrônicas. Não olham para frente e buscam reescrever um passado de supostas glórias, como se a economia e a sociedade brasileira não tivessem evoluído e as necessidades atuais não fossem diferentes.

No caso da Vale há reincidência de Lula, que nos mandatos anteriores criticou a empresa por investimentos fora do Brasil e pela aquisição de bens de capital, como navios, de fornecedores estrangeiros.

Já naquela época a mineradora não era estatal, mas o governo tinha influência em sua gestão pela participação de fundos de pensão no capital e o alinhamento prévio do voto de acionistas de peso.

Hoje nem isso existe, felizmente —o capital é mais diluído, não há um bloco de controle e o conselho é independente.

Mas Lula insiste em suas teses passadistas, quando faria melhor em se preocupar com o Orçamento e medidas que atraiam investimentos. Deveria ser desnecessário apontar o despautério de um governo buscando interferir na gestão de uma companhia privada.

editoriais@grupofolha.com.br

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