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O que a Folha pensa mudança climática

Novo anormal

Mudança climática castiga agronegócio, reduz safra e exige plano de adaptação

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Soja é despejada em caminhão em fazenda de Luziânia (GO) - Adriano Machado/Reuters

Há anos alerta-se que o agronegócio tem na mudança climática um calcanhar de Aquiles. Deve-se reforçar o alerta, pois as ameaças já deixam de vir só de mercados refratários ao desmatamento e passam a decorrer também, diretamente, da meteorologia conturbada.

A Folha noticia que incertezas do clima estão por trás da redução de 11 milhões de toneladas nas previsões da próxima safra. A projeção anterior da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicava 317,5 milhões de toneladas, ora rebaixada para 306,4 milhões.

Mato Grosso será o estado mais prejudicado. Chuvas irregulares deverão provocar queda de 11,4 milhões de toneladas na produção de grãos —de 101 milhões no ano passado para 89,6 milhões em 2024.

Já o Rio Grande do Sul, o mais castigado nos últimos anos, compensará parte da quebra nacional com colheita 44% maior de milho, alta de 68% na de soja e 11% na de arroz.

Pode-se argumentar, com razão, que a agropecuária sempre esteve vulnerável às variações climáticas. O problema está no aumento da incerteza acarretada pelo aquecimento global, resultante da queima de combustíveis fósseis e das mudanças no uso da terra, que lançam carbono na atmosfera.

As maiores emissões brasileiras de gases do efeito estufa provêm do campo, com desflorestamento em primeiro lugar. Está em queda o desmate na Amazônia, cuja repercussão internacional vinha criando restrições a commodities brasileiras, mas cresce no cerrado; cedo ou tarde, tal devastação manchará a imagem do exportador.

A mudança climática fez de 2023 o ano mais tórrido do registro histórico, turbinada pelo fenômeno El Niño. Esse aquecimento da superfície do oceano Pacífico provoca tempestades no Sul do Brasil e secas pronunciadas no Norte, o que por sua vez favorece queimadas.

Florestas ressecadas cumprem com menos eficácia seu papel no ciclo hidrológico. A irregularidade das chuvas e sua falta nas épocas decisivas para a safra estão por trás das sucessivas revisões da Conab.

Os impactos não se limitam ao setor rural, açoitam também áreas urbanas, como sabem paulistas sem energia e transportes em meio a sucessivos temporais.

É imperativo que governos e opinião pública enxerguem a conexão entre essas ocorrências e reajam a elas com um planejamento integrado para adaptar populações, infraestrutura e setor produtivo para o novo anormal.

editoriais@grupofolha.com.br

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