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O que a Folha pensa saúde mental

Receita psicodélica

Austrália autoriza uso medicinal de MDMA e psilocibina; Brasil segue refratário

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Comprimidos de MDMA (ecstasy) - Eduardo Knapp/Folhapress

O renascimento psicodélico, como se convencionou chamar o retorno de drogas alteradoras da consciência à farmacopeia psicoterápica, torna-se realidade na Austrália. Dois pacientes receberam as primeiras prescrições de MDMA (conhecido como ecstasy) para transtorno de estresse pós-traumático.

Está em vigor desde julho a concessão de licenças especiais para que psiquiatras daquele país possam receitar a droga para essa condição, mas somente agora dois médicos pioneiros cumpriram todas as exigências burocráticas.

Com o certificado, eles podem ainda prescrever psilocibina (princípio ativo dos cogumelos ditos "mágicos") para depressão.

Ambos receberam treinamento específico para se credenciar, uma exigência da Administração de Bens Terapêuticos, órgão equivalente à Anvisa na Austrália. O curso se deu na organização não governamental Mind Medicine, que fez campanha pela regulamentação de psicoterapias assistidas por substâncias psicodélicas.

Fala-se em retorno dessas drogas à medicina porque algumas delas, LSD incluído, tiveram uso clínico nas décadas de 1950-60. Desapareceram do receituário com a proibição no calor da guerra às drogas dos anos 1970, contudo nos dois últimos decênios dúzias de testes clínicos vêm demonstrando seu potencial terapêutico.

Nos Estados Unidos, onde a tal guerra começou, MDMA passou bem por ensaios de fase 3 e teve pedido de licença submetido à agência de fármacos FDA para tratar estresse pós-traumático —transtorno que acomete centenas de milhares de ex-combatentes de guerras. Se não houver percalços, a autorização pode sair ainda neste ano.

Autoridades australianas se adiantaram e, após rever a literatura recente, concluíram pela oportunidade de permitir a administração das duas substâncias apenas para as condições mencionadas, de modo muito restrito. Isso porque vários dos pacientes em questão não obtêm bons resultados com as terapias tradicionais disponíveis.

Trata-se de lógica humanitária que está longe de encontrar guarida no Brasil. Aqui, até o uso medicinal da maconha —já com largo emprego nos EUA e noutros países— ainda encontra barreiras ditadas mais por ideologia e pânico moral do que por evidências.

Um campo novo se abre para a saúde mental com o uso controlado de psicodélicos. Falta ousadia, que sobra na Austrália.

editoriais@grupofolha.com.br

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