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Gustavo Faibischew Prado

Câncer de pulmão e a redução das desigualdades na assistência

Prevenção e diagnóstico precoce são fundamentais para mudar panorama

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Gustavo Faibischew Prado

Coordenador da Comissão de Câncer da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, é médico pneumologista com graduação e doutorado na USP; coordenador da Pneumologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Neste domingo (4) o mundo se une para marcar o Dia Internacional do Câncer, uma data crucial para promover a conscientização e mobilizar ações globais no enfrentamento desse conjunto de doenças que afeta quase 20 milhões de pessoas no mundo a cada ano. Em 2024, a Union for International Cancer Control (UICC) propõe para esta data alusiva o tema "Close the Care Gap" ("Reduzir a Desigualdade na Assistência") como um chamado a esforços para superar as disparidades no cuidado aos pacientes com câncer.

Entre os diversos tipos de câncer, o de pulmão —segundo mais incidente, superado em número de casos apenas pelo câncer de mama— se destaca como um desafio de saúde pública. A cada ano, aproximadamente 2,2 milhões de novos casos são diagnosticados em todo o mundo e, no Brasil, mais de 32 mil pessoas são afetadas por essa doença. Infelizmente, muitos pacientes têm seus diagnósticos feitos em estágios avançados, o que torna o tratamento mais desafiador e as perspectivas, menos otimistas.

A chave para mudar esse panorama preocupante está na prevenção e no diagnóstico precoce. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) reconhece a importância cardinal das políticas públicas de controle do tabagismo, a redução de exposições ocupacionais a carcinógenos e a diminuição das emissões de poluentes atmosféricos como estratégias fundamentais na prevenção do câncer de pulmão. Mas para além da prevenção, de forma paralela e sinérgica, necessitamos ações voltadas ao diagnóstico precoce (seja por meio de linhas de cuidado dedicadas ao paciente com sintomas respiratórios ou anormalidades de exames de imagem, seja com a busca ativa da doença através de programas de rastreamento).

A despeito dos esforços para prevenção do câncer de pulmão e antecipação do seu diagnóstico, ainda precisamos um olhar sensível para a complexidade e os custos crescentes do tratamento desta doença, especialmente considerando que no Brasil cerca de três quartos da população são assistidos exclusiva e integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A busca por equidade no acesso a essas inovações persiste então como um desafio crucial. Não basta que nos mantenhamos atualizados e que encurtemos a latência entre o surgimento de evidências de novos tratamentos e a sua efetiva incorporação em nosso arsenal terapêutico; precisamos entender como viabilizar o alcance a essas terapias inovadoras, e inevitavelmente custosas, para os pacientes assistidos pelo SUS.

Nesse sentido, a SBPT desempenha um papel de promotor e catalisador dessas mudanças. Trabalhando em colaboração não apenas com seus associados, mas também em coordenação com a sociedade civil e em parceria com o Ministério da Saúde, a SBPT busca subsidiar tecnicamente as decisões e processos de incorporação de novas tecnologias em saúde para o SUS. Objetivamente, em 2023 e início de 2024, a Sociedade Brasileira de Pneumologia, através das suas comissões científicas, participou na qualidade de consultora das reuniões da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) e submeteu pareceres técnico-científicos sobre a avaliação da incorporação de medicamentos imunoterápicos na doença localmente avançada e metastática, a realização de testes moleculares para identificação de alterações genômicas do câncer de pulmão (que em última análise dirigem a prescrição de tratamentos mais ativos e precisos) e a inclusão de métodos ecoendoscópicos para o estadiamento do câncer.

"Close the Care Gap" é mais do que um tema para nós da SBPT; é uma bandeira de luta por uma assistência mais igualitária aos nossos pacientes. Neste Dia Mundial do Câncer, celebramos os progressos na ampliação do acesso a diagnósticos e tratamentos mais eficazes, enquanto reforçamos nosso compromisso em continuar trabalhando para alcançar uma maior equidade no cuidado aos pacientes atendidos pelo SUS. Unidos, podemos reduzir a desigualdade na jornada de tratamento do câncer de pulmão e oferecer esperança a todos aqueles que enfrentam essa enfermidade.

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