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O que a Folha pensa mudança climática

Dengue anunciada

Explosão de casos era previsível; agilizar vacinação poderia ter salvado vidas

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Agende de saúde aplica inseticida contra o mosquito da dengue, em Brasília (DF) - Adriano Machado/Reuters

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou algum burburinho com uma mal disfarçada referência, em publicidade sobre a dengue, à operação da Polícia Federal que teve como alvo o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Em vez de usar o grave problema de saúde pública para politicagem contra rivais do presidente, a gestão petista deveria ter tomado medidas de precaução para a explosão anunciada da doença.

Como mostrou a Folha, a partir de dados do Ministério da Saúde, oito estados e o Distrito federal mostram alta de 100% ou mais de casos neste início de ano.

A região Sul apresentou 10.961 diagnósticos de dengue na primeira quinzena de janeiro, o que representa um salto de 958% em relação ao período correspondente de 2023. No Brasil, o aumento foi de 105%, passando de 27.076 no ano passado para 55.584.

A alta é comum no início de cada ano, com pico em março. A explosão da doença em janeiro de fato está fora da curva, contudo foi praticamente prevista pela Organização Mundial de Saúde.

Em janeiro do ano passado, a OMS emitiu alerta sobre "ameaça pandêmica" da dengue. Em julho, apontou que 2023 poderia ter números recordes no mundo devido ao El Niño, que eleva temperaturas e incidência de chuvas.

A piora global tem como causas mudança climática, urbanização crescente e aumento de circulação de pessoas. Desmatamento e saneamento precário também elevam taxas de contaminação.

No Brasil, quase 50% da população não tem acesso a redes de esgoto, e a derrubada de matas para construção de moradias irregulares grassa nos centros urbanos.

Se medidas em infraestrutura demandam tempo, outras podem ser tomadas de imediato, como campanhas de conscientização, vigilância de habitações, incremento logístico e de pessoal nas redes de atendimento e distribuição de vacinas. Nesta última, porém, o governo falhou fragorosamente.

Em março de 2023, a Anvisa permitiu a venda do imunizante japonês Qdenga. Mas o processo kafkiano que autoriza a oferta pelo SUS só foi concluído em dezembro.

Agora, a farmacêutica só consegue entregar 5 milhões de doses até novembro. Como são necessárias duas doses, apenas 2,5 milhões de brasileiros serão imunizados. Fica o aprendizado de conhecimento notório: procrastinar na área da saúde coloca vidas em risco.

editoriais@grupofolha.com.br

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