A população brasileira já sabe que o ano começa com Carnaval, chuvas e dengue. Entretanto o surto da doença em 2024 quebra recordes. Nas cinco primeiras semanas epidemiológicas, o país registrou quase o dobro de casos ante o mesmo período de 2023, passando de 82.840 para 156.871.
O Distrito Federal, que decretou estado de emergência, tem a maior incidência, com 46.298 casos prováveis até domingo (4) —alta de 1.120% em relação a 2023.
Ao superar 10 mil diagnósticos, o estado do Rio de Janeiro também decretou estado de emergência; na capital, janeiro somou 362 internações, maior número desde 1974.
O pior é que a possibilidade de que a situação calamitosa se instaurasse não era desconhecida por autoridades do setor de saúde.
Os casos vêm aumentando em todo o mundo na última década, atingindo em 2023 até países anteriormente livres do vírus, como Itália, França e Espanha.
Na América Latina, cujo clima tropical é propício ao mosquito, o gráfico ascendente mostra 400 mil casos em 2000, seguido por 1,7 milhão (2010) e até 2,8 milhões (2022).
No Brasil, segundo a série histórica do Ministério da Saúde com início em 2000, a marca de 1 milhão foi cruzada pela primeira vez em 2015. No ano passado, houve 1.658.816 de casos, dado só superado pelos 1.688.688 de 2015.
De acordo com a OMS, a alta global se deve a mudanças climáticas, aumento de circulação de pessoas e urbanização desordenada. Países emergentes, como o Brasil, sofrem ainda com saneamento precário.
Não à toa, no ano passado o órgão emitiu dois alertas sobre picos de casos, acrescentando o fenômeno El Niño como fator importante para a escalada da doença.
Mesmo assim, o Ministério da Saúde não agilizou a burocracia para a distribuição pelo SUS da vacina japonesa Qdenga, autorizada pela Anvisa em março de 2023.
Como o imunizante exige duas doses em intervalo de três meses, e a farmacêutica responsável só consegue entregar cerca de 5 milhões de doses até novembro, por ora esse recurso terá efeito bastante limitado para dar conta do colapso.
A dengue é uma doença que sobrecarrega os aparelhos de saúde. Governos nas esferas federal, estadual e municipal também falharam ao não preparar a infraestrutura física, logística e de pessoal do sistema para lidar com a alta de pacientes, muitos agora atendidos em tendas improvisadas.
Com o estrago já feito, resta ao poder público correr contra o tempo para incrementar o atendimento, aliado a medidas de prevenção e conscientização. Segundo especialistas, o pior ainda está por vir.
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