Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Rússia

Navalni e a Rússia

Morte de opositor de Putin na cadeia evidencia degeneração autoritária do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Alexei Navalni, ativista político, em passeata contra o governo de Vladmir Putin, em Moscou (Rússia) - Shamil Zhumatov - 29.fev.20/Reuters

Após um calvário de três anos, Alexei Navalni morreu em uma prisão russa num canto ermo do país, 40 km acima do Círculo Polar Ártico. Ele tinha apenas 47 anos.

Com ele desaparece não só o mais proativo crítico de Vladimir Putin surgido na última década; vai-se também um dos últimos suspiros de oposição em um país onde a calcificação do sistema político virou um fim em si mesmo.

Não que Navalni fosse perfeito, muito ao contrário. Figura dada a polêmicas, esposou visões chauvinistas e preconceituosas do mundo antes de ser adotado pelo Ocidente como o cavaleiro salvador da democracia russa.

Isso ele nunca foi. Os eleitores não chegaram a vê-lo como opção real a Putin, único homem que todos os nascidos a partir de agosto de 1999 viram como líder do país mais vasto do mundo.

Navalni tampouco dizia a que veio, como o proverbial cão que corre atrás de um automóvel e não tem ideia do que fazer quando enfim alcança seu objetivo. Faltava-lhe ideário político e econômico, para não falar de equipe.

Sobravam-lhe, contudo, engenho, expresso nos grandes protestos que mobilizou contra Putin, e coragem. Quando foi envenenado na Sibéria, acabou removido para tratamento na Alemanha.

Poderia ter ficado por lá com sua mulher e dois filhos, mas decidiu voltar a Moscou de forma temerária. Foi preso imediatamente e nunca mais deixou o cárcere, tendo uma pena de três anos e meio aumentada para 30 anos e meio em julgamentos subsequentes.

O cheiro de perseguição política evidente se espraiou pelas condições de seu encarceramento, com longos períodos em celas solitárias e o previsível declínio físico —que, nunca se deverá saber ao certo, pode ter sido central para sua morte.

É improvável que algo mude: o Ocidente continuará a chamar Putin de assassino, e os russos tendem a manter a aprovação acima de 80% de seu líder em uma guerra que pode vencer contra a Ucrânia.

Se tal cenário é multifatorial, incluindo aí apoio genuíno a Putin, é certo que a morte de Navalni será marca dos efeitos da degeneração autoritária crescente da Rússia.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.