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O que a Folha pensa violência

Caso Marielle avança após 6 anos do crime

Polícia Federal prende três suspeitos de terem mandado matar vereadora; processo criminal, porém, está longe de acabar

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Chiquinho Brazão (esq.), Domingos Brazão (centro) e Rivaldo Barbosa desembarcam do avião da Polícia Federal, em Brasília (DF) - Pedro Ladeira - 24.mar.24/Folhapress

São estarrecedoras as conclusões da Polícia Federal no inquérito sobre os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, cometidos com brutalidade em 14 de março de 2018 —ainda que o processo criminal esteja longe de acabar.

De acordo com a PF, o duplo homicídio foi arquitetado por três figuras conhecidas na esfera pública: Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro; seu irmão Chiquinho, deputado federal eleito pela União Brasil-RJ (o partido decidiu expulsá-lo de seus quadros); e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio. Todos eles foram presos.

Veio do nome de Barbosa a maior surpresa dessa lista. Ao comandar apurações à época do crime, ele manteve relação próxima com a família de Marielle e prometeu ações expeditas para deslindar a trama.

Se for verdade o que afirma a PF, Barbosa fez o contrário. Teria agido para dificultar o trabalho dos investigadores e impedir que os mandantes fossem identificados, o que ajudaria a explicar por que uma violência tão desabrida passou tantos anos impune, para constrangimento da segurança fluminense.

Dadas as características particulares do caso, o assassinato de Marielle mereceu atenção geral desde o princípio. Tratava-se, afinal, de uma vereadora carioca eleita pelo PSOL que, nascida na favela da Maré, combatia a discriminação racial, militava por direitos de mulheres e da comunidade LGBTQIA+ e denunciava ações ilegais de milícias e de setores da polícia.

Nunca houve dúvida, portanto, de que sua morte estivesse ligada à sua atuação política.

A despeito da gravidade do episódio, demorou um ano para serem presos os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados, respectivamente, de efetuar os disparos e dirigir o carro utilizado no ataque.
Ficaram soltas, porém, as pontas relativas aos mandantes. Agora, com base na delação premiada de Lessa, a Polícia Federal acredita ter fechado o caso.

Embora o momento seja de comemoração pelo avanço, convém lembrar que a própria PF, em seu relatório, destaca a escassez de provas diretas sobre as tratativas clandestinas descritas por Lessa. Será frustrante se a Justiça detectar fragilidades na acusação.

Caso se confirmem as conclusões do inquérito, o assassinato de Marielle Franco terá sido sintoma de um problema de segurança muito mais grave —e não se erguerá nenhuma solução duradoura se aos pilares faltar solidez.

editoriais@grupofolha.com.br

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