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O embrião do real

URV completa 30 anos; plano deu certo pois não se limitou a um lampejo criativo

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Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, em evento de comemoração do primeiro ano do Plano Real, em Brasília (DF) - Lula Marques/Folhapress

Com o lançamento da Unidade Real de Valor (URV), em 1º de março de 1994, foi posta em prática a primeira fase da engenhosa reforma monetária que levaria ao lançamento da atual moeda brasileira, o real, quatro meses depois.

O marco do plano mais presente na memória coletiva foi a troca das cédulas, mas a transformação teve início com a URV, mecanismo de indexação que buscou o alinhamento dos preços —para que a população recuperasse a percepção do valor dos bens e serviços.

Na época, 1 URV correspondia a US$ 1, com reajustes diários na moeda de então, o cruzeiro real. Depois, as cifras em URV foram convertidas em reais.

A consistência técnica e jurídica do Plano Real foi um diferencial decisivo em relação às tentativas anteriores. Os fracassos que o precederam proporcionaram um aprendizado fundamental.

A negociação para conversão dos salários em URV foi talvez o maior desafio político da empreitada, dada a pressão dos sindicatos por ganhos no poder de compra.

Para vencer o ceticismo, o governo Itamar Franco e a equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, também inovaram ao fazer a opção política correta. Buscaram o apoio da opinião pública e do Congresso com transparência, sem malabarismos, congelamentos ou intervenções atabalhoadas.

O plano não se esgotou na reforma monetária. Deu início a uma transformação institucional e econômica de grande envergadura.

Os passos seguintes foram esforços para o equilíbrio do Orçamento, num percurso até hoje acidentado, saneamento do sistema financeiro e das contas dos Estados, privatizações e abertura econômica.

Socialmente, o impacto foi a proteção dos salários contra a inflação, o que propiciou melhoria da distribuição de renda, continuada nas décadas seguintes com a ampliação da rede de proteção social.

Sem a URV, seria muito mais difícil conter a escalada dos preços no Brasil —peculiar devido aos mecanismos arraigados de correção monetária— com os instrumentos tradicionais de política fiscal e de juros. O plano foi bem-sucedido, porém, porque não se limitou a um lampejo de criatividade.

editoriais@grupofolha.com.br

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