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Basília Rodrigues

Se você não é racista, não pareça racista

Convicto de que não age com preconceito, desfila pela avenida de privilégios

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Basília Rodrigues

Jornalista, é analista de política da CNN Brasil e graduanda em direito

Fala como racista, age como racista, mas não gosta de ser chamado assim. Compactua com "o sistema", coloca a culpa no "racismo estrutural". Tudo para não ser apontado como parte disso.

Absolutamente convicto de que não age com preconceito, desfila pela avenida de privilégios, pela qual passa todo racista ou "pseudo-não-racista", como quem nunca jamais será pego porque, entre outras coisas, "tem até amigos negros".

Ainda que passe, saiba que está sendo assistido por muitos e também por aqueles que veem exatamente como quem diz "preciso aprender" —está mais para quem ensina a erguer a estrutura do racismo e se utiliza dela.

A jornalista Basília Rodrigues - basiliarodriguesoficial no Insta

Apenas uma sociedade doente de racistas para usar as expressões "racismo estrutural" e "seja antirracista" a favor da omissão ou capa para o próprio racismo.

Se não é racista, não pareça racista. Me desculpe falar tanto essa palavra. Ela é feia mesmo, é coisa de quem não sabe viver em sociedade. Racista não gosta de ouvir que é racista; imagine ser descoberto...

Na dúvida, pare. Porque se até você começa a ter dúvidas, é porque já está na cara que é certeza. O que chamam de implicância, predileção ou até meritocracia, para facilitar, chame logo de racismo que fica mais fácil entender.

Infelizmente, quando "nada explica", é porque só o racismo explica; e essa ideia limitada de dizer que ele está na estrutura, mas não estaria nas pessoas, é um disfarce. Ele tem essa capacidade histórica de envolver todos, repelir muitos e ser relativizado por alguns ao mesmo tempo.

Não é racista, mas age exatamente para minar, secundarizar ou vilanizar uma pessoa negra. Não é racista, mas vai falar de novo dessa pessoa negra?

Não é racista, mas olha o guarda-roupa de máscaras. Tem uma para usar com o amigo negro e outras com os amigos brancos ou negros em que o assunto, que surpresa, é o tal do negro.

Se fosse uma aula sobre não ser racista, repita comigo: se não é racista, não pareça racista no trabalho, na escola, na rua, online, offline, em férias, dormindo ou acordado. Não coloque a culpa no sistema. Não coloque a culpa na vítima.

Acabou de dizer que não é, que precisa aprender, mas está fazendo de novo? Não há letramento que preste para isso. Aliás, há o Código Penal, a letra que mais ensina. Na Constituição, racismo é inafiançável; na lei, outras práticas racistas, como a injúria racial, já foram equiparadas para serem punidas com o mesmo peso. Não tem fiança, não tem prescrição e, é bom que se diga, não tem desculpa também.

Racista é racista. Racista é quem faz a estrutura do racismo perdurar. Não ser chamado, ou não querer ser chamado assim, não o torna menos racista.

Mas se ainda, digamos, uma maioria acreditar que você foi racista sem querer, um tipo de "racista culposo", a lei prevê até mesmo os casos em que a pessoa comete um crime sem intenção ou sem saber que é ilegal.

Porém, não é por desconhecimento que virá a absolvição. Todos são responsáveis por cumprir a lei —passar pano para racista, não.

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