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Terremoto em Lisboa

Pleito português mostra força da ultradireita em meio a onda global de populismo

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Luís Montenegro, líder da coalizão Aliança Democrática (AD), vencendora das eleições legislativas em Portugal - Miguel Riopa/AFP

País cuja história tem no terremoto que arrasou sua capital em 1755 um ponto central da confecção do caráter nacional, Portugal vê-se ante novo sismo, guardadas as proporções, desta vez político.

Após quase nove anos no poder, o Partido Socialista (PS) foi apeado do governo nas eleições legislativas. Com quase todas as urnas apuradas, a sigla perdera 43 cadeiras no Parlamento, chegando a 77 num plenário com 230 assentos.

A coalizão de direita Aliança Democrática (AD), trinca centrada no histórico líder do campo conservador, o Partido Social Democrata (PSD), elegeu 79 deputados.

Apesar de estar longe da maioria de 116 cadeiras, pela regra portuguesa a AD tem o direito de formar um governo, e seu líder Luís Montenegro disse que irá fazê-lo. Aqui começam os seus problemas.

A grande novidade da eleição não foi o tradicional dualismo luso, que oscilava entre governos conservadores e de esquerda jogando dentro das regras, com constância, desde que o país abraçou a democracia em 1974, após décadas de ditadura sob inspiração fascista.

Ela veio na forma de um fenômeno hoje conhecido na antiga colônia, o Brasil, e mundo afora: o populismo radical de direita. O Chega, partido surgido em 2019 com franca admiração por tipos como Donald Trump e Jair Bolsonaro (PL), viu sua representação saltar de 12 para 48 deputados. Ato contínuo, seu líder, André Ventura, já demanda participação no novo governo.

O impasse deverá gerar um período de instabilidade não previsto para quem acompanhava os governos do premiê António Costa, que renunciou em novembro devido a um escândalo de corrupção.

Desnecessário desenhar as semelhanças com o caso brasileiro. No entanto é bom olhar além dos lamentos de ditos progressistas: o pleito português teve 66,3% de comparecimento, o mais alto índice em quase três décadas. Goste-se ou não, o povo falou nas urnas.

O desfecho do enredo ainda é desconhecido, mas, com Trump ameaçando voltar à Casa Branca e a renovada força de ultradireitistas até na Alemanha, é possível argumentar que a destrutiva onda populista de 2016 está em reforma.

editoriais@grupofolha.com.br

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