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Simão Davi Silber

Perspectivas econômicas são pouco animadoras

No Brasil, é provável uma deterioração fiscal nos próximos quatro anos

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Simão Davi Silber

Professor sênior do Departamento de Economia da FEA-USP e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas)

No mês de janeiro foram divulgados dois importantes relatórios com as perspectivas da economia mundial, dos principais países e regiões: o do Banco Mundial e o do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os modelos macroeconométricos dessas instituições preveem uma redução do crescimento da economia mundial, como consequência de políticas monetárias restritivas, piora nas condições financeiras, estagnação do comércio internacional e investimento produtivo nos principais países do globo. Existem riscos adicionais: o conflito no Oriente Médio e a desorganização do mercado de petróleo, a inflação persistente e a redução do crescimento da China.

Sede do FMI em Washington (EUA) - Yuri Gripas/Reute - REUTERS

Os países em desenvolvimento exportadores de commodities deverão ter problemas fiscais com a redução dos preços dos produtos de exportação, a queda da arrecadação e o menor crescimento do Produto Interno Bruto. Estima-se que o crescimento do PIB global neste ano seja de 3,2% —o terceiro ano consecutivo de desaceleração— e 25% abaixo da média dos últimos 20 anos.

A inflação mundial segue em queda depois do pico alcançado em 2022, embora continue acima da meta, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. A alta de preços permanecerá acima da média de 2015-19.

A queda da inflação afetou de forma diferente o crescimento dos países: nos EUA, a desinflação ocorreu com a expansão do nível de atividade econômica e baixo desemprego, devido ao aumento da oferta de mão de obra, aprimoramento na cadeia de suprimentos internacionais e queda no preço do petróleo. Na zona do euro, foi acompanhada de crescimento modesto, reflexo dos choques de oferta adversos e aumento no preço das commodities agrícolas e do petróleo. Já nos países em desenvolvimento esteve associada à redução do crescimento.

O comércio mundial de bens e serviços permaneceu estagnado em 2023, fenômeno que só havia ocorrido quando houve recessão global nos últimos 50 anos. Para 2024, espera-se um crescimento de 3%. Apesar do conflito recente no Oriente Médio, o preço das commodities diminuiu em 2023, embora ainda esteja 40% acima do nível pré-pandemia.

No Brasil, a aprovação na Câmara dos Deputados do novo Regime de Consolidação Fiscal no lugar do teto de gastos para o governo federal aumentou a rigidez da gestão pública. A parcela das despesas obrigatórias subiu de 90,5% para 93,3% do Orçamento com a fixação de um piso para os investimentos, despesa que antes não era obrigatória.

Há indicações de que não se atingirá a meta do superávit primário, e a dívida bruta do governo em geral pode se manter no patamar de 75% do PIB. É provável que ocorra uma deterioração fiscal nos próximos quatro anos.

A decisão do Copom do último dia 20 de março promoveu a sexta queda da taxa de juros, de 11,25% para 10,75% ao ano, consolidando uma política monetária que prioriza o equilíbrio interno e com menor intervenção no mercado cambial.

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