Descrição de chapéu Coronavírus

Leitores relatam do que mais sentem falta durante a quarentena do coronavírus

Muitos têm saudades de ver pessoas queridas, caminhar e ver o mar

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São Paulo

Desde que o coronavírus chegou ao Brasil, há uma discussão entre presidente, ministros, governadores e especialistas sobre isolamento vertical e horizontal. Muitos governadores e prefeitos orientaram o fechamento temporário de shoppings, escolas e comércios.

O consenso é que grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças crônicas, devem evitar sair de casa. Essa quarentena afeta as atividades cotidianas, como trabalhar, ir à padaria e ver familiares e amigos. E também a rotina de exercícios e a saúde mental.

Os leitores da Folha relatam do que mais sentem falta nesse período de isolamento.

Moro num lugar paradisíaco: Canoa Quebrada (CE). Sinto falta dos turistas que chegavam aqui todos os dias trazendo seus sonhos, suas expectativas e desejos de serem felizes durante as férias que aqui passavam.

É sentir mais por eles do que por mim, quantos tiveram que adiar suas vindas para cá e talvez nunca as realize. Sinto falta de ir até ali na praia e dividir a alegria com os pescadores, jangadeiros, ambulantes, garçons das barracas de praia, kit surfistas, pilotos de parapente, bugueiro e os turistas. Todos felizes ao interagir com as dunas, falésias, o mar verde e sol constante, na natureza abençoada daqui. É impossível não se sentir muito feliz aqui, a não ser durante a quarentena. Faz falta e muita, poder reunir gente feliz na sombra de um quiosque, tomar água de coco, cerveja gelada e conversa fiada.

É preciso ficar de quarentena, e isso eu concordo, respeito e entendo. Mas não nego que faz falta a liberdade de interagir, dar um abraço, um aperto de mão sem medo de pegar essa assombração, isso vai passar e é verdade. Só que esse tempo esperando nunca mais voltará. (José Ruy Barbosa de Oliveira)

Desfruto de minha aposentadoria junto ao mar e com incursões ao campo e subindo montanhas (com minha mulher, Vanessa Reis, subi o Pico da Bandeira e o Monte Roraima, por exemplo). Em quarentena, é disto que mais sinto falta: do mar, do mato e das montanhas.

Também sinto falta dos dois netinhos, David e Levi. No meio do isolamento, um dia não resisti. Peguei o carro, parei junto ao prédio em que eles moram, telefonei e eles acenaram felizes da varanda do nono andar. Então ajustei a máscara, entrei no carro e voltei ao meu isolamento. (Jonas Rosa dos Reis)

Todos temos hábitos, rotinas. Uns passam diariamente na padaria, outros na floricultura. Alguns curtem o malabar na esquina ou aquela loja, sempre com uma vitrine surpresa. Mas, é claro, existem as práticas sagradas: a cerveja com os amigos, a pelada ou o tênis aos sábados, o culto religioso, a visita aos pais idosos...

Em cada um a abstenção dói num ponto e da minha parte, o que mais faz falta é o silêncio.

É bem verdade que a vida pública tão rumorosa desses tempos torna o recolhimento quase impossível. Mas agora, mesmo quando o movimento nas ruas cessa completamente e quando a vizinhança está quieta, o trovejar da besta, acossada pelas provocações dos incautos e pela fanfarronice dos ignorantes, é ensurdecedor. (Sérgio Machado)

O que mais sinto falta é ir a um restaurante, hábito que tenho de toda semana, pelo menos um dia, sair para comer fora.

Ainda que se possa usar o delivery, não é a mesma coisa, pois não há nada como ser servido e não ter louça para lavar. (Roberto de Barros Freire)

Sinto falta de ver minha família grande, dar muitos abraços, de almoços de domingo com todo mundo junto e de tomar um longo banho de mar. (Cristina Bicudo)

Eu sinto falta dos museus, galerias de arte, de ir à igreja no domingo, de ir ao parque, de ir ao shopping tomar café expresso, ler jornais emprestados em livrarias. Quando eu morava em São Paulo, eu tinha várias opções de lazer. Estou na roça em Mogi das Cruzes, parece que o tempo não passa, estou fazendo faxina em casa, lavando roupa e cozinhando o almoço de hoje. (Denise Teixeira de Abreu)

Caminhar, caminhar por aí...

Entre tantas outras atividades que tenho, uma das que eu mais gosto é caminhar. Moro a uns seis quilômetros do meu escritório e geralmente vou a pé. Às vezes preciso levar algo pesado ou tenho de fazer compras, vou então de carro.

O centro da cidade fica razoavelmente perto de minha casa e quando vou ao banco, aos Correios, às lojas, eu também vou a pé. Pois é, adoro caminhar.

Ida e volta a pé. Vejo o trânsito parado, os ônibus lotados, vejo o céu azulzinho, tão bonito! Moro em Petrópolis (RJ), e a minha cidade, sem modéstia, é bela. Principalmente nos arredores do centro histórico.

Ao ser instalada a quarentena –o #ficaemcasa–, eu mais que depressa fiquei. Tenho 61 anos e apesar de realizar atividades físicas como caminhadas e hidroginástica antes disso tudo acontecer, pertenço a grupo de risco.

Tenho ido ao mercado uma vez por semana de carro, devido ao peso da bolsa na volta. Só que senti muita falta de caminhar. Melhor, tenho sentido ainda, pois isso ainda não terminou. Um desses dias precisei pagar minhas contas, resolvi ir a pé. Fui cedinho. Consegui sentir o gostinho de caminhar, olhar para o céu e pensar, pôr os pensamentos no lugar. Sou aposentada e tenho o meu salário mensal, o que não é o caso de muitas pessoas, eu sei. A minha atividade atual é a prestação de serviços editoriais –o que eu adoro fazer– e está devagar. Estou apenas com uma publicação em andamento, consigo resolver quase tudo relativo a isso pela internet. A comunicação virtual se tornou uma necessidade, agora mais do que nunca.

Bem, é isso. O que mais sinto falta em meu dia a dia é poder caminhar, caminhar por aí... (Rita Lúcia de Lucas Tré Becker)

Sinto falta do sexo. Não por ser uma necessidade fisiológica, de nós, animais, e afetiva, de nós, humanos. Mas por ser ele que fabrica amor entre, até então, desconhecidos.

Não por acaso, é como se constrói a expressão fazer amor. Make love. Expressão esta temida por aqueles que mal se conheceram, e ansiada por quem vê o amor de antes começar a se perder.

Em tempos de quarentena, é preciso se reinventar e se permitir a fazer amor. (Tomaz Carvalho)

Além do trabalho, cotidianamente tenho muitos afazeres fora de casa, corro o dia todo. Gosto muito de minha casa, tenho muito prazer em ficar em casa. No início da quarentena, estava muito envolvida com as aulas na academia e na ioga, sob a orientação de uma nutricionista. O impacto foi enorme, não aguentava não sair nos horários dos compromissos... e parei de emagrecer, com a redução da movimentação diária.

Fiquei muito triste. Desesperada por não poder ficar com minha mãe e com meu filho, que moram em outras cidades. Sem rumo pelo esfacelamento do calendário no qual elaboro o planejamento dos meses seguintes. Andava pela casa sem saber o que fazer (apesar de ter bastante trabalhos para corrigir chegando por email).

Com o tempo, as aulas de ginástica e ioga começaram a chegar pelo computador, eu fui mudando meu ritmo e a forma de fazer as coisas. Comecei a arrecadar alimentos para fazer cestas básicas. Hoje eu não sei como será minha vida antiga, quando tiver que sair correndo novamente, sem horários de refeições!

Terei que reformular meu cotidiano, repensar meu trabalho, pois estou muito mais "vagarosa" –o mundo está mais devagar. Eu MUDEI. Agora não sei mais o que serei e o que será na semana que vem. Continuo sentindo muita falta da minha família, mas acho que o que me dói mais agora é a dor dos que estão sofrendo e sofrerão por conta da pandemia. (Liene Cunha Viana)

Estou mesmo sentindo falta de ir trabalhar como barman, não para socializar com os clientes, mas sim para ganhar dinheiro mesmo. Algumas contas venceram e serviços foram cortados e o discurso de tolerância das empresas por conta da Covid-19 ficam apenas em hashtags de mídias sociais, imprensa, no próprio governo e nas emissoras de TV. (Márcio Esgarze Stapani)

Nestes tempos de isolamento social, extremamente necessário, sinto muita falta do contato familiar, dos jogos de futebol do meu time e da possibilidade de poder curtir uma feijoadinha com samba de raiz ao vivo em uma tarde de sábado, tomando aquele chopp gelado. São momentos simples que fazem diferença na vida de quem trabalha muito durante a semana. (Melckzedeck Aquino de Araújo)

Eu sinto falta da espontaneidade que as pequenas coisas do cotidiano tinham, como ir à padaria comprar um pão e parar para conversar com um vizinho no caminho, dar uma "passada" na casa de um amigo só pra ver como ele está, beijar minha sobrinha na frente da escola fazendo ela morrer de vergonha dos amigos –afinal ela já é uma pré-adolescente–, poder tocar as pessoas enquanto converso, levar meu filho para minhas avós conhecerem ele, abraçar apertado as pessoas que eu amo.

Saudade de tudo que achei que era fato consumado, mas se tornou fator de risco. Sinto falta do demasiadamente humano que antes mesmo da pandemia, já estávamos em desconexão...​ (Beatriz Diniz)

Acho que o que mais sinto falta é pedalar para o trabalho. Fazia isto regularmente, duas vezes por semana, 16 km para ir, 16 km para voltar. O exercicio é bom para cabeça, dá mais apetite etc.

Trabalhando de casa agora não rola. Tenho tentado usar, no caso, minha bike elétrica toda vez que preciso ir ao mercado para pelo menos lembrar. Mas não é a mesma coisa.​ (José Carlos Duarte)

Tenho imensa saudade de meus três netos: Virgínia, Pedro e Liz. Moro em um sítio no município de Águas Formosas (MG). Só os vejo por vídeos e fotos. É um momento muito difícil, mas necessário. Precaver agora, para estar com eles em breve.​ (Antero Ricardo)

Todo mundo me pergunta do que sinto falta nesse período. Quase nada. Estou há mais de vinte dias em casa. Gostaria mesmo que me perguntassem do que NÃO sinto falta.

Não sinto falta de acordar cedo por causa do transporte para ir trabalhar. Não sinto falta do ponto que é preciso bater. Não sinto falta de grande quantidade de colegas de trabalho. Não sinto falta de reuniões repetitivas, desgastantes e pouco produtivas.

Não sinto falta do trânsito que enfrento para voltar no final da tarde. Não sinto falta de ter que pegar o mesmo trânsito para poder fazer uma aula de ioga. Não sinto falta de ter que abastecer o carro. Não sinto falta do cansaço e esgotamento ao fim de cada dia.

Não sinto falta de não ter tempo para namorar meu marido porque ainda tenho coisas do trabalho para fazer depois do expediente. Não sinto falta de não ter tempo para brincar com minha cachorra. Não sinto falta de não ter tempo para ler um romance, sem compromisso com o trabalho. Não sinto falta de ter aquele sentimento de culpa por não ir a algum encontro.

Sou uma das muitas pessoas privilegiadas no país. Meu lar é confortável e eu tenho alimentação, além de poder trabalhar em casa. Me irrita quando usam a palavra isolamento. Prefiro recolhimento. É uma benção estar em casa. (Esmeralda Barbosa Cravançola)

Como sentir falta das coisas que eu não conseguia fazer? Me explico. Antes da quarentena não conseguia tomar um bom café antes de ir para o trabalho na companhia do marido e do rádio, não conseguia ler um livro, um texto ou os inúmeros emails do trabalho, dos amigos e, ainda, respondê-los.

Não conseguia assistir bons filmes e shows "lives", não conseguia ouvir boas playlists, não conseguia ver fotos guardadas “in cloud”, não conseguia preparar minhas refeições e almoçar na companhia da minha mãe, não conseguia “ver” a praia, serra ou simplesmente a pracinha mais próxima.

No mínimo esquisito achar que após a crise voltarei para tudo que não fazia? Estou em home office, gosto do que faço e tenho dado conta do meu trabalho. Sinto saudades da minha neta, dos bons amigos que estão longe e do bom chope. Mas tenho certeza de que a crise passando (e vai passar !) minha saudade vai se inverter. Não consigo explicar. Pirei! (Cristina Vilche)

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