Gratidão, alívio e revolta pela demora: leitores contam a experiência de tomar as duas doses de vacina

Adesão à imunização atingiu nível recorde, segundo Datafolha

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Lauro de Freitas (BA)

Deborah Muniz posa para foto comemorando com seu cartão de vacinação e um certificado em homenagem ao pai, vítima da Covid (Foto: Arquivo Pessoal )
Deborah Muniz posa para foto comemorando com seu cartão de vacinação e um certificado em homenagem ao pai, vítima da Covid (Foto: Arquivo Pessoal )

"Em mim existia uma mistura de sentimentos: gratidão, alívio, tristeza e a revolta causada, não apenas pela demora da vacina, mas também pela persistência do negacionismo na sociedade brasileira", conta Deborah.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na terça (13), a adesão às vacinas no Brasil atingiu nível recorde, de 94%. Entre os entrevistados, 56% dizem já ter se vacinado, e 38%, que pretendem fazê-lo. Apenas 5% afirmam que não foram nem pretendem ser imunizados e 1% respondeu que não sabe.

Francisco Almeida, 35, foi receber a sua dose, em Caucaia, no Ceará, com uma camisa estampando a sua profissão ("lute como um jornalista"). Para ele, fica a homenagem aos "240 profissionais de imprensa que realizaram o trabalho árduo de informar a sociedade brasileira desde o início da pandemia, mas acabaram falecendo devido ao Covid".

Já o caso do técnico em enfermagem Felipe Chaves, que trabalha na UTI de um hospital em Porto Alegre, é mais raro. Voluntário nos testes da Coronavac em 2020, ele foi imunizado quando a maioria dos brasileiros sequer sonhava com o feito. "Fui um dos poucos entre os meus colegas que não se infectou", conta. "Espero que logo todos se vacinem e que esta pandemia seja controlada".

Confira os depoimentos completos enviados pelos leitores da Folha:

  • Nome: Deborah Muniz Angelim Reis
  • Idade: 22 anos
  • Cidade: Manaus (AM)
  • O que estuda: estudante de Farmácia da Universidade Federal do Amazonas

Na imagem seguro a minha carteira de vacinação em uma das mãos e, na outra, uma homenagem fúnebre ao meu pai, Paulo Afonso Reis, profissional da saúde que atuou na linha de frente do combate à pandemia pela prefeitura de Manaus.

Ele faleceu no dia 16 de janeiro em decorrência da Covid-19, aos 59. No dia 9 de julho, tomei a vacina da Janssen, de dose única, e chorei muito.

Em mim existia uma mistura de sentimentos: gratidão, alívio, tristeza e a revolta causada, não apenas pela demora da vacina, mas também pela persistência do negacionismo na sociedade brasileira.

Deborah Muniz

Manaus (AM)

Apesar de todos esses sentimentos, senti esperança pelo novo tempo que nascerá e espero ansiosamente a imunização de cada cidadão brasileiro.

Felipe Chaves durante trabalho em UTI do hospital Divina Providência, em Porto Alegre (Foto: Arquivo Pessoal )
  • Nome: Felipe Chaves
  • Cidade: Porto Alegre (RS)
  • Profissão: técnico de enfermagem

Sou técnico de enfermagem na UTI 2 do hospital Divina Providência, em Porto Alegre. Acredito muito nas vacinas e na nossa ciência. Por isso, em julho de 2020, descobri que o instituto Butantan estava captando voluntários para a pesquisa com a Coronavac. Fiz a minha inscrição como voluntário e me vacinei em agosto, com a primeira dose, e em setembro com a segunda.

Durante esse tempo trabalhando na linha de frente, fui um dos poucos entre os meus colegas que não se infectou. Espero que logo todos se vacinem e que esta pandemia seja controlada.

Eduardo Almeida posa para foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal )
  • Nome: Francisco Eduardo Moura de Almeida
  • Idade: 35
  • Cidade: Caucaia (CE)
  • Profissão: Jornalista

Não deu tempo de ajustar a blusa, mas nela estava escrito "lute como um jornalista". Entre os muitos significados da minha imunização, está a homenagem aos 240 profissionais de imprensa que realizaram o trabalho árduo de informar a sociedade brasileira desde o início da pandemia, mas acabaram falecendo devido à doença.

Me vacinei no dia do Orgulho LGBTQIA+ e isso tem um sabor de conquista e teimosia. Conquista porque é um direito meu como cidadão, e teimosia porque vivendo em um país que mata uma pessoa uma LGBTQIA+ a cada 26 horas, sou teimoso demais ao me manter vivo.

À revelia de todos os esforços, desencorajamento ou omissão para que a vacinação não ocorresse, eu estou vivo e VACINADO!

Francisco Eduardo Moura de Almeida

CE

  • Nome: Jones Cordeiro
  • Idade: 52 anos
  • Cidade: Campinas (SP)
  • Profissão: investigador de polícia

Meu nome é Jones Cordeiro, tenho 52 anos, sou investigador de polícia e vivo em Campinas. Tomei a primeira dose da vacina no dia 9 de abril e, a segunda, no dia 2 de julho. Em razão da minha profissão, tive a oportunidade de ser vacinado um pouco antes da população em geral.

Foi uma alegria muito grande, porque trabalhei e continuo trabalhando presencialmente, em contato com a população, desde o início da pandemia. No início, tive muito medo de me contaminar e transmitir a doença para minha mulher e filho e demais familiares. Vi muitos colegas de trabalho que adoeceram e alguns que perderam a vida.

Desde o início, disse a mim mesmo que, com a primeira vacina que me fosse dada, agradeceria a Deus e a todos que se empenharam para que isso acontecesse.

Quero expressar minha indignação com as pessoas que estão escolhendo a marca da vacina como se escolhessem um perfume. Vacina boa é aquela que está no nosso braço!

Jones Cordeiro

Campinas (SP)

Adriana Moretta recebendo vacina contra a Covid-19
Adriana Moretta recebendo a vacina contra a Covid-19 - Arquivo pessoal
  • Nome: Adriana Moretta
  • Idade: 56 anos
  • Cidade: Rio de Janeiro (RJ)
  • Profissão: Psicoterapeuta

Sou profissional de saúde, psicoterapeuta. Tomei a primeira dose da vacina em abril e, como era Coronavac, a segunda foi em maio. Chorei de emoção nas duas vezes. De alegria por estar a caminho da imunização. De tristeza por todos os que não tiveram tempo e partiram antes, ceifados por esta doença terrível. Minha mãe, idosa que já fez duas cirurgias cardíacas, também já está imunizada. Muito alívio e gratidão à ciência e ao SUS!

Ana Garcia posa para foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal)
  • Nome: Ana Carolina Nicida Garcia
  • Idade: 29 anos
  • Cidade: São Francisco, Estados Unidos

Tomei as duas doses da Pfizer assim que pude, aqui nos Estados Unidos, onde moro. Na primeira dose eu estava grávida de 35 semanas, e fui sem hesitar: o risco da doença era muito maior do que o das vacinas e eu não queria ficar doente no fim da gravidez.

A segunda dose eu tomei três dias após o parto. Fui toda feliz: estudos mostram que os componentes dos anticorpos das vacinas passam para os bebês pela amamentação. Além de dores no braço, não tive outras reações.

Meu filho tem hoje três meses e está saudável e crescendo bem. Eu sigo tranquila de que estou protegendo a minha família e minha comunidade. Vacinem-se, pessoal! Tem muita ciência por trás de qualquer um desses imunizantes.

  • Nome: Claudia Tassara
  • Idade: 62 anos
  • Cidade: Campinas (SP)
  • Profissão: Psicóloga

Infelizmente, não tenho imagens do momento em que tomei a primeira dose. Mas posso assegurar que senti uma emoção muito grande, um arrepio. Meu peito se encheu de alegria e alívio. Por estar em grupo prioritário, tomei a segunda dose em fevereiro. Um mês depois, meu marido contraiu a Covid com sintomas de uma sinusite forte. Escapei ilesa, acredito.

No início de maio, minha fisioterapeuta também recebeu o diagnóstico para a doença —exatamente um dia depois de nos encontrarmos em uma consulta, onde houve muita proximidade física. De novo, escapei ilesa.

Continuo me cuidando muito, máscara, álcool em gel, nada de aglomerações. Sinto um enorme alívio e sei que só escapei porque estava vacinada. Sou muito grata por ter tido essa oportunidade. 

Claudia Alvarenga posa para foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19" (Foto: Arquivo Pessoal )
  • Nome: Claudia Oliveira Immezi de Alvarenga
  • Idade: 51 anos
  • Cidade: São Paulo (SP)
  • Profissão: Administradora de empresas

Thallicia Palareto posa para foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal )
  • Nome: Thallicia Cristiane Francisco Palareto
  • Idade: 37 anos
  • Cidade: Ribeirão Preto (SP)
  • Profissão: dona de casa

Ganhei o maior presente do mundo. Depois de meses com medo de ser contaminada, de morrer e de perder mais alguém (perdi o meu primo de 48 anos, pois ele não teve tempo de se vacinar), tomei a minha dose de esperança. Que continuem se cuidando! Por mim, por você e por todos os que amamos.

  • Nome: Vicência Franco
  • Cidade: São Luís (MA)
  • Profissão: Professora

Depois de três meses, eis a segunda dose da vacina. Lembrei dos milhares de brasileiros que não tiveram essa dita. Dentre eles, estão familiares, amigos queridos e colegas de profissão. Nessas memórias, uma lágrima mista traduz: tristeza, saudade, mas logo é ofuscada pelo brilho da esperança. Sim, a vida renascerá!

Marlena Macedo posa para foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19" (Foto: Arquivo Pessoal ) - Arquivo pessoal
  • Nome: Marlene de Macedo
  • Idade: 52 anos
  • Cidade: Itirapina- SP
  • Profissão: Professora Rede Estadual e Municipal de Ensino

Chegar ao momento de receber a primeira dose foi um misto de sentimentos. Lembro-me da emoção de levantar a camiseta, o sorriso. Na hora H não pude conter as lágrimas, pensando em todas as pessoas que não tiveram a mesma oportunidade e o direito à imunização. Me senti aliviada e ao mesmo tempo desconfortável por fazer parte do grupo prioritário, por ser professora. Deveríamos todos ser prioritários. Que ninguém mais precise agonizar esperando sua vez! A vacina salva vidas, e o amor salva o mundo!

Alissa Miguel posta foto comemorando sua vacinação contra a Covid-19 (Foto: Arquivo Pessoal )
  • Nome: Alissa Miguel Machado
  • Idade: 19 anos
  • Cidade: Miguelópolis-SP
  • Profissão: Estudante de psicologia na Uni-FACEF

Tomei a primeira dose da vacina da AstraZeneca e me sinto imensamente feliz do quão longe a ciência chegou num período tão estreito. Fica aqui minha eterna gratidão e orgulho de toda a equipe desenvolvedora da vacina.

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